Hora do desapego

Junji Abe

Em época de recessão aguda, uma alternativa é vender pela internet objetos comprados, mas sem uso. Não é solução nem a superação das dificuldades, mesmo porque a crise diminui compradores, mas uma possibilidade de reduzir as dívidas. Embaladas pela estabilidade econômica, preços barateados por benefícios fiscais e crédito fácil, pessoas compraram além do que precisavam. Resultado: um amontoado de coisas em bom estado que são tratadas como bugigangas. Ou bens de maior valor que ainda não foram quitados.

Pelo menos quatro de cada dez brasileiros possui itens sem uso que poderiam ser colocados à venda. Representa potencial financeiro de R$ 105 bilhões, uma média de R$ 1.864,16 por pessoa. Os dados, divulgados em julho do ano passado, constam de pesquisa do Ibope, que mapeou o mercado de produtos usados no Brasil.

Vender produtos inservíveis que estão em casa pode ser um bom jeito de arrumar dinheiro extra. Basta praticar o desapego. Há gente que tem pelo menos três aparelhos de celular sem uso, enquanto amarga dívidas com bancos e operadoras de cartões de crédito. Segundo levantamento do Banco Central, a taxa de juros do cheque especial chegou a 308,7% ao ano em abril. Já os juros do rotativo do cartão de crédito ficaram em 448,6% ao ano.

É um momento mais que propício para a educação financeira. De um lado, renegociar dívidas para arcar com menos juros. O crédito renegociado opera com taxa de 54,7% ao ano, de cinco a oito vezes menor que a do cheque especial e a de quem paga só o mínimo da fatura do cartão. De outro, desapegar de itens sem uso para obter uma renda extra com a venda, utilizando os recursos para abater as dívidas.

Especialistas sugerem que se faça uma lista de calçados, roupas, eletrônicos, móveis usados, tudo que foi comprado e não saiu da caixa ou que está encostado faz algum tempo. O tamanho do inventário é um bom indicador de que a pessoa comprou bem mais do que precisava, por falta de planejamento, impulso ou para manter o status.

O passo seguinte é transformar objetos sem uso em dinheiro. Pesquise os sites de comércio online de produtos usados. A maioria admite anúncios gratuitos, mas cobra taxas variadas sobre o valor da comercialização. Vale ver comentários de usuários e consultar eventuais reclamações. E, claro, não empregar o que arrecadou em mais compras improdutivas. Boa sorte e boas vendas!

*Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

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