Libertemo-nos de ideias suicídas!

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Notícias sobre atropelamentos como o da senhora de 53 anos, há poucos dias, esmagada pelo trem da América Latina Logística em Jales, são chocantes. O povo brasileiro, não estaria sendo também atropelado pelo processo pró-impeachment da presidenta? Presume-se que a senhora atropelada em Jales teria cometido suicídio. O que dizer dos que ingenuamente se deixam manipular pelos artífices do impeachment? Atropelados, suicidamente. Igualmente chocante.

Diferentemente do ocorrido no impeachment de Collor, em 1992, os que lideram a proposta de impeachment atual, além de não serem das camadas mais pobres, representam grandes interesses econômicos. Estariam eles, realmente, interessados em mudar os rumos do país pensando no bem dos mais pobres? Evidentemente, não. Eles e seus seguidores, sem argumentos convincentes, apelam até mesmo para o clima de ingovernabilidade gerado pela divisão da opinião pública e do Congresso Nacional.

Este argumento não deixa de ser uma armadilha, afinal nosso país foi sempre dividido. Os detentores do capital e os explorados por eles sempre estiveram em conflito. O confronto político atual revela este conflito histórico. Muitos, focados na moral, questionam a corrupção pública, sem se referirem ao próprio sistema econômico capitalista, determinante em última instância de nosso modo de vida, é corrupto por natureza. Ele influencia negativamente todo o tecido social.

O que dizer, então, dos políticos que defendem esse sistema? Por serem cúmplices dele, não mereceriam, também, um processo de impeachment? O que dizer ainda dos grandes meios de comunicação mancomunados com os detentores do capital? Pretendem-se denunciadores. Não seriam lobos disfarçados de ovelhas? Por que enfatizam a corrupção em um partido e abrandam denúncias sobre outros? Evidentemente, não são neutros. É justo permitir-lhes tão grande poder de influência parcializada, a ponto de fazerem e desfazerem governos?

A democracia no Brasil está, realmente, fragilizada. As razões são mais profundas do que aparecem. Por isso, a 54ª. Assembleia Geral da Conferência Nacional do Brasil (CNBB), realizada em Aparecida, entre os dias 6 e 15 de abril, emitiu uma declaração sobre o momento nacional, conclamando "o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade", e afirmando acreditar "no diálogo para a superação do atual impasse político, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças na busca de caminhos, que garantam a superação da crise econômica e conduzam à paz social".

Essa convivência política saudável proposta pela CNBB, se for aceita será um passo importante para que todos os setores da nação se dediquem a analisar as causas mais profundas de nossas crises, questionar e reorientar nosso modelo econômico e nosso sistema político, buscar novos parâmetros para nossa organização social, e recompor nossa cultura com base no respeito à dignidade da pessoa humana, na primazia do bem comum, na prioridade do trabalho sobre o capital, na sustentabilidade ambiental e na solidariedade entre os humanos. Trilhemos esse caminho! Libertemo-nos, portanto, de ideias suicidas!

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