Democracia participativa na escola

*José Renato Nalini

São Paulo incentivou a dinamização e o fortalecimento dos Grêmios Estudantis na rede pública da educação. Com propósitos os mais saudáveis. Fazer com que o alunado participe efetivamente da gestão democrática das escolas e faça o treino essencial à formação cidadã. Afinal, um dos objetivos da educação é preparar o jovem para o exercício da cidadania.

Cidadania, na visão clássica de Hannah Arendt, é o direito a ter direitos. Numa versão contemporânea, essencial evidenciar a outra face dos direitos, que é o cumprimento dos deveres. A cada direito corresponde um dever e num momento em que a primazia dos direitos debilita, às vezes, a assunção de responsabilidades e de obrigações, nada como evidenciar à juventude que o convívio impõe certos compromissos.

Os Grêmios Estudantis têm uma história de protagonismo que é preservado em alguns nichos e convém estender e intensificar em todos os demais. O alunado tem todas as vantagens na missão de integrar um colegiado formado por colegas da mesma escola. É a forma de habilitar a técnica da argumentação, da persuasão, do convencimento. Ouvir outras ideias e contrapô-las, sopesá-las, aprender a ponderar e a rever os próprios pontos de vista.

O debate sobre temas de interesse cotidiano da escola e de seus integrantes propicia o amadurecimento em relação à realidade. Analisar as dificuldades, estimular a criatividade e o empreendedorismo. Encarar situações com outros olhos. Mas não é de se negligenciar a arte de fazer amigos. O período em que a criança e o jovem permanecem na escola, no convívio diário com os colegas, professores, funcionários e demais personagens dessa fase tão preciosa é um tempo que deixará saudades em todos. Todos ganham se puderem valorizar esse período e amalgamar nele as amizades que terão continuidade pela vida afora.

Como é bom reencontrar aqueles companheiros de jornada, depois de tantos anos e verificar que a afeição continua, independentemente da mudança de rumos, das separações que as vicissitudes obrigam, das opções que os adultos são às vezes obrigados a tomar. O que perdura é o sentimento de pertencimento a uma fase que se inscreve na consciência e se fixa no coração, como os tempos mais felizes, aqueles em que a missão era estudar, conviver, sonhar e projetar o futuro.

Simultaneamente, os Grêmios Estudantis constituem o caminho natural para o desempenho da liderança. As vocações vão se delineando, os talentos sendo evidenciados e reconhecidos. O Brasil precisa de pessoas aptas à assunção das missões imprescindíveis para o fortalecimento dos valores. Numa época em que eles parecem num declínio preocupante, nada como provar que a mocidade acredita na honestidade, no bom exemplo, no voluntariado e na espontaneidade para o enfrentamento de questões comuns a todos. É nesse campo que talvez se reencontre a plus valia da política, o reconhecimento de que sem ela não é possível reordenar a Nação, sequiosa por novos quadros. É da escola que sairão os responsáveis pela edificação daquilo que o constituinte prometeu e ainda não conseguiu ver concretizada: a sociedade justa, fraterna e solidária.

Um projeto aparentemente circunscrito ao interior das escolas pode oferecer um espectro enorme de consequências muito valiosas para o Brasil. São nos momentos em que a República indaga qual será o seu futuro que temos de acreditar na boa-fé, na sinceridade, na vontade de mudar as coisas que a juventude é capaz de encarar, pois está a vivenciar a passagem do mundo em que o sonho ainda encontra guarida para aquele em que se encontrará o terreno da realidade. Realidade que pode ser promissora e alvissareira para quem se dispuser a oferecer o seu idealismo, o seu entusiasmo e a sua intenção de fazer o melhor por si, pelo próximo e pela Pátria.

*José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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