Câncer chamado inflação

 
Junji Abe

Quem quase perdeu as vísceras nas mais de duas décadas de hiperinflação que sepultaram empresas, exterminaram empregos e levaram milhões à miséria sabe bem o que significa recessão. Os preços das mercadorias subiam três, quatro, até cinco vezes por dia. Também faltavam alimentos, remédios, uma série de itens essenciais. E, claro, pelo menos três em cada dez trabalhadores estavam desempregados. Em junho de 1994, antes do real, o índice inflacionário foi de 47,43%. Um carro popular de R$ 35 mil custaria cerca de R$ 500 a mais no dia seguinte. Um ano depois, chegaria a estrondosos R$ 3,74 milhões. Era uma insanidade!
O Plano Real freou a escalada inflacionária. O País entraria na era das vacas gordas. Na última década, o promissor cenário econômico começava a dar sinais de instabilidade. A coisa piorou nos últimos três anos quando o monstro da inflação mostrou que ainda respirava. Hoje, ele está cheio de energia.
Desde 1º de julho de 1994, quando o real começou a circular, até 31 de março de 2016, o poder de compra da moeda brasileira caiu 81,41%. Uma nota de R$ 100, guardada naquela data, vale hoje, de fato, R$ 18,59. O cálculo é do Instituto Assaf, entidade privada formada por professores e pesquisadores das áreas de economia e finanças.
São vários os fatores geradores de inflação. Num conceito simplista, seria uma família gastar continuamente mais do que ganha. No setor governamental, a gastança irresponsável – associada à corrupção generalizada e à roubalheira dos cofres públicos – engorda o déficit público. Ancorada na má gestão das finanças públicas, a inflação corrói o que encontra pela frente. O atual governo brasileiro imprimiu sua desastrosa patente no comportamento do câncer inflacionário.
Em recente comentário, o humorista Jô Soares disse que o problema não é a falta de luz no fim do túnel; é que não existe túnel. Nunca fui pessimista. E não serei a partir de agora. Fica a lição de que vencemos aquela crise horrenda de décadas passadas. Haveremos de superar também a atual. Mais importante do que definir o presidente da República é que o governante – quem quer que seja – aplique o tratamento capaz de conter a inflação. Caso contrário, o câncer avançará com metástase. Deus nos proteja!
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)
 
 

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