Alimentos

por Reginaldo Villazón

A prática de ficar em silêncio para "observar e pensar" não está na tradição ocidental. Entre nós, houve o tempo em que era valorizado saber de cor fórmulas matemáticas, dados históricos, aspectos geográficos, peças anatômicas. Hoje, as tecnologias difundem grandes volumes de informações, superando tempos e distâncias. Tem boa reputação quem se mantém conectado e toma providências rápidas. Ficamos sem o hábito – agora, nem momentos – para atentar e refletir sobre os fatos que acontecem à nossa volta.

Nós sabemos que hoje existem várias maneiras de produção, distribuição e preparo dos alimentos. As empresas de comunicação – rádio, televisão, revistas, jornais – publicam casos de agricultura não convencional: orgânica, natural, ecológica, biodinâmica e outras. Das mãos dos produtores aos consumidores, os alimentos seguem por vários caminhos, desde as feirinhas de venda direta até a passagem por centrais de distribuição e indústrias de beneficiamento. O preparo dos alimentos hoje é uma profusão de métodos, texturas, cores e sabores.

O que nós demoramos a perceber é que estamos vivendo uma revolução alimentar. Não se trata apenas do surgimento de técnicas e formas alternativas, mas de mudanças radicais que vão afetar toda a sociedade. Pessoas alienadas argumentam que os modos convencionais de produzir, distribuir e preparar alimentos vão garantir a vida e a saúde de todos no planeta. Porém, há pesquisas e evidências que mostram o contrário.
Sem dúvida, os alimentos oriundos de lavouras livres de fertilizantes químicos e agrotóxicos apresentam teores reduzidos de substâncias nocivas (como metais pesados) e teores elevados de substâncias benéficas (como antioxidantes). Além disso, a ciência identifica novos alimentos ricos em nutrientes (superalimentos) e os alimentos que protegem o organismo contra doenças (alimentos funcionais). Médicos e nutricionistas, em muitos casos, não hesitam em orientar sobre escolha e preparo dos alimentos como questão de vida ou morte.

O consumo de produtos de origem animal, antes obrigatório, passou a ser opcional. Milhões de vegetarianos, no Brasil e no mundo, provaram que é possível se manter vivo e saudável sem os produtos de origem animal. Assim, cresce o número de pessoas que abandonam ou diminuem o consumo de carnes, leite, queijos e ovos. Em 2013, dois relatórios da ONU fizeram alertas sérios. Primeiro, será necessário reduzir a produção animal no planeta para salvar a humanidade de um desastre ambiental. Segundo, será necessário consumir menos produtos de origem animal para evitar 70% das novas doenças humanas.
Não é possível, de imediato, alterar as maneiras de produção, distribuição e consumo de alimentos. Mas é possível – basta decidir – observar e pensar no assunto. Será de bom senso dar crédito aos bons conselhos dos médicos e nutricionistas. Será ótimo formar uma pequena horta em casa e comprar alimentos naturais de produtores idôneos. Será enriquecedor fazer incursões – sem compromisso – nos ambientes da gastronomia natural. Esta revolução é bem-vinda e vem para ficar. Vai ser de grande proveito seguir os acontecimentos.

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