Voluntários fazem a diferença durante incêndio na Santa Casa


A ordem no caos. Mesmo envoltos por um turbilhão de acontecimentos, voluntários arregaçaram as mangas e fizeram a diferença.

Sábado, 2 de janeiro de 2016. Esse seria mais um final de semana como outro qualquer no Hospital de Ensino Santa Casa de Fernandópolis. O que ninguém esperava é que esta data seria como uma prova de fogo para a equipe e pacientes. Uma sala do hospital pegou fogo e diversos setores do hospital foram tomados pela fumaça. Apesar do caos gerado pelo incêndio, um sentimento ficou bem nítido: a solidariedade.
Diversos voluntários deixaram suas casas para auxiliar no combate ao fogo, ou para socorrer os pacientes que estavam nas áreas próximas ao foco do incêndio. Dentre essas pessoas, estava o repórter Wellington Rodrigo Kouti Moreira, 32 anos. Ele estava no Pronto Socorro, acompanhando uma ocorrência
policial, quando começou a movimentação dos funcionários alertando sobre oincêndio.
“Como aquela noite estava meio tumultuada no Pronto Socorro, quando um funcionário disse ‘está pegando fogo’, achei que era uma brincadeira, foi aí que vi a fumaça subindo, então peguei uma máscara e fui ajudar. Naquele momento, mesmo estando a trabalho, eu deixei minha câmera de lado e só pensei nos pacientes. Eram vidas que estavam em risco e precisávamos tirar
eles de lá”, lembra o repórter.
O fogo teve início por volta das 21h30, na sala onde são digitalizados e impressos os exames de Raios-X. O local fica no final de um corredor que dá acesso a outras salas e setores do hospital. Assim que os colaboradores da Santa Casa perceberam o incêndio, o Corpo de Bombeiros foi acionado.
Com ajuda de extintores, alguns funcionários tentaram apagar o fogo, mas não tiveram sucesso, já que as chamas se alastraram rapidamente. Em pouco menos de 20 minutos, os bombeiros já haviam chegado à Santa Casa e a notícia já se espalhava entre a população.
Vários colaboradores, que estavam de folga, ficaram sabendo do incêndio por meio das redes sociais e fizeram como o técnico de radiologia José Ricardo Passerini, 35 anos, que não pensou duas vezes para ajudar os colegas de trabalho.
“Trabalho aqui há 20 anos. Tudo o que eu tenho, tudo o que eu consegui, foi graças à Santa Casa. Na hora que fiquei sabendo do incêndio, e ainda por cima no setor que eu trabalho, fui correndo pro hospital. Eu tenho muito carinho pelo hospital e pelos companheiros que tenho. Só queria chegar e ajudar da melhor maneira”, relatou Passerini, que há 11 anos trabalha no setor incendiado.
Outro voluntário foi o médico André Fraga Rueda, 24 anos, que se formou em medicina no ano passado, e fez a maior parte de seu estágio na Santa Casa.
Ele e sua namorada ficaram sabendo do incêndio por amigos e decidiram prestar auxílio, pois sabem das necessidades que podem surgir em um momento como esse.
“Na hora, pensamos em ir ver como estava a situação, se precisariam de algum apoio para realizar a transferência de pacientes para outras cidades e até prestar socorro. Eu nasci na Santa Casa, estudei aqui e o hospital é muito importante para toda a nossa cidade e região. Eu não poderia ficar em casa, então vim e ajudei no que foi possível”, explicou o médico
Pouco a pouco, um mutirão de voluntários se formou. Com essa ajuda, sete pacientes da Unidade de Terapia Intensiva, os pacientes que passavam por atendimento no Pronto Socorro e quatro pacientes da pediatria foram rapidamente transferidos, à salvos, para setores do hospital longe das chamas e da fumaça.
Naquele dia, ficou provado que a união faz a força. Em questão de minutos, um novo Pronto Socorro improvisado já estava funcionando nas dependências do Instituto Avançado do Coração (IACor), que faz parte do conglomerado da Santa Casa.
Despois que o fogo foi controlado e toda a operação de realocação concluída é que os voluntários puderam compreender, de fato, o que aconteceu. “Depois que o desespero de salvar os pacientes, salvar os equipamentos passou é que fui parar pra pensar no que estava acontecendo. Me marcou olhar para nossos colegas da Santa Casa e ver a tristeza de cada um”, relatou José Ricardo.
Apesar das marcas na parede, causadas pela fuligem, o que ficará marcado para sempre serão as pessoas que deixaram de lado seus problemas e tiveram fé de que juntas poderiam fazer a diferença. “Como eu, outras pessoas sentem que a Santa Casa é nossa segunda casa. Nós passamos por uma dificuldade financeira muito grande, mas continuamos acreditando, temos esperança de que podemos fazer um futuro melhor”, finalizou o técnico de radiologia.
“Mesmo em momentos como esse, podemos extrair algo de bom. Pudemos constatar que não estamos sós nessa luta e que existem muitas pessoas de bem que amam a Santa Casa. Não há palavras ou algo que possa demonstrar nossa gratidão a todos aqueles que atenderam ao sinal de socorro da Santa Casa: colaboradores, médicos, alunos de cursos de saúde, voluntários, acompanhantes de pacientes, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Civil, Secretaria Municipal de Saúde, SAMU e toda a nossa população”, agradeceu a provedora, Dra. Sandra Regina de Godoy.

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