Todos por todos

Reginaldo Villazón

Situações coletivas graves acontecem todos os dias no mundo. São guerras, como as que perduram na África, no Oriente Médio e outras regiões. Desastres naturais, como terremotos, erupções vulcânicas, secas, tempestades, inundações. Epidemias, como as causadas pelos vírus Ebola, HIV, Zika. Marginalidade sócio-econômica, como desnutrição, analfabetismo, desemprego, violência. Mesmo bem incompleta, a lista é grande.

Muitas pessoas, que tomam conhecimento desses fatos nos noticiários, sentem que tudo acontece distante, longe da realidade local. No Brasil, recentemente houve grande estiagem, mas lá longe no Nordeste. Houve inundações com muita destruição e desabrigados, mas lá longe no Sul. Houve um desastre ambiental que abalou os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Mas quem está aqui, distante, por que se preocupar?

Se nós estamos em condições de boa segurança, com amplas possibilidades de viver a vida toda fora dos riscos coletivos, ótimo. Que assim seja! Mas as crises coletivas – independentes das causas, da duração e de onde acontecem – acarretam consequências extensas. Elas destroem vidas, lares, meios de subsistência, serviços de educação, serviços de saúde, esperanças, perspectivas de dias melhores.

Isto quer dizer que situações coletivas graves produzem crises humanitárias, portanto, de maior relevância que simples fatos e perdas materiais. Por esta razão, não faz sentido achar que as crises coletivas são distantes e nada temos a ver com elas. Neste verão, em boa parte do país, as chuvas destruíram casas, ruas, estradas, pontes e cavaram erosões. Recursos emergenciais vultosos, para socorro e reconstrução, vão sair do bolso de todos nós.

Não será muito diferente se avaliarmos as situações coletivas graves em nível mundial. Porque as crises humanitárias, que elas geram, estão moralmente perto de nós e consomem um volume incalculável de recursos emergenciais, desviados de projetos mais abrangentes. Esta é a regra principal para o enfrentamento das situações coletivas graves: todo mundo tem a ver com as crises de todo mundo, não importa onde aconteçam.

A regra seguinte é rejeitar a falsa diferença entre ações de desenvolvimento e ações humanitárias. Muitas intervenções humanitárias, iniciadas no combate a crises, costumam incluir esforços próprios da busca do desenvolvimento. E os trabalhos de desenvolvimento seguem em frente por longo período, muito além da crise, até estabilizar as comunidades em níveis elevados de organização, segurança e bem estar.

O mundo será um lugar seguro para viver quando seus habitantes tiverem a consciência que a segurança de todos é responsabilidade de todos. E que a maior defesa contra as crises é o desenvolvimento, mais eficiente e mais barato do que as ações emergenciais. Aspirar um mundo novo, desenvolvido e sustentável, resistente às crises e suas sequelas, é desejar um mundo que dispensa a necessidade de ajudas humanitárias emergenciais.

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