Nostalgia de Natal

*José Renato Nalini

Nem todos se alegram com a chegada do Natal e Ano Novo. Muitos são acometidos de uma certa nostalgia, própria a quem mescla o sentimento inspirador de harmonia, paz, convívio fraterno a um laivo de tristeza sem qualquer explicação racional.

Muitas são as causas desse misto de angústia com saudades, tudo revestido de emoção. Qual a explicação para esse fenômeno?

Há quem se recorde de Natais da infância, onde alguns desejos não foram satisfeitos. Crianças sonham e têm anseios insuscetíveis de atendimento. Frustram-se e ficam estigmatizadas. Outros se comovem porque pessoas queridas já não estão neste mundo. Sua falta é muito mais enfatizada nesse período. Entes com cadeira cativa no afeto eternal nunca mais participarão de ceias, trocas de presentes ou de abraços com a formulação de votos tradicionais. Isso é muito doloroso!

O artificialismo desses cumprimentos forçados consegue desmotivar muita gente e a torna um pouco cética em relação à sinceridade com que são formulados. Por que essa obrigação de desejar "Feliz Natal", mesmo a pessoas que não estão na lista de predileção de quem profere a saudação?

A expectativa de quem aguarda os tradicionais presentes natalinos é também algo que pode irritar. Cresce a relação daqueles que aguardam regalo, agrado e lembrança. O esquecimento de um personagem que deveria ter sido contemplado incomoda o esquecido, mas não menos aquele que deveria ter se recordado dele. Há muito ressentimento gerado por essa situação. O interesse pessoal – ou personalíssimo – faz com que se esqueça o motivo das festas. Por que se comemora o Natal?

Natal é celebração do nascimento de Jesus. Para os cristãos, o Messias. O Salvador. O elo entre a Humanidade e o Criador. Restabelece a aliança entre Deus e a criatura. Essa a razão de ser de uma comemoração natalina. Isso é o que deve merecer reflexão nesta época.

A tristeza contida nas músicas natalinas reside nessa enorme série de sensações por elas geradas. A música é uma linguagem milagrosa. Transporta quem ouve seu som mágico a espaços ignotos e a territórios distantes e, talvez, nunca pressentidos. Inebria, toca a alma, sensibiliza e enternece. Com certeza, é o caminho mais adequado para recuperar o verdadeiro espírito de Natal, que deve trazer esperança, bons propósitos, expectativas as mais alvissareiras, não tristeza, angústia ou desconforto.

Neste ano, principalmente, precisamos de alento para o enfrentamento de um 2016 que se prenuncia tão dramático e preocupante como foi 2015. Peçamos ao Menino que nos inspire, nos anime e nos municie de confiança no porvir que teremos de enfrentar, alegres ou não.

*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo

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