Natal de todos

Reginaldo Villazón
A universalidade das religiões e das concepções de Deus, muitas vezes desejada, é uma condição por enquanto inatingível. Por mais que as religiões se coloquem como fruto da mesma inspiração divina e pratiquem ações ecumênicas puras, cada religião tem sua história, sua cultura, sua doutrina. Embora muitos religiosos afirmem que o Deus de todas as religiões seja o mesmo – um ser supremo único – as concepções da divindade sustentadas pelas religiões revelam diferenças significativas de conciliação impossível.

Uma tese, muito aceita nas religiões, assegura que Deus criou o universo e tudo o que nele existe. Outra tese, bem considerada, retruca que Deus não criou nada. Ou seja: o universo e tudo o que nele existe é a manifestação do próprio Deus. São idéias muito diferentes. Isto mostra como é normal – necessário e positivo – que as pessoas se aglutinem em grupos religiosos e filosóficos distintos, conforme suas afinidades. O que não pode ser aceito é o afastamento das boas intenções e dos comportamentos sadios.

Assim, enquanto não alcança a universalidade, a humanidade aprende a se desvencilhar das intolerâncias e dos conflitos. Passa a dar valor à convivência respeitosa entre cristãos, muçulmanos, hinduístas e muitos outros. Mas a universalidade não é uma quimera. Jesus Cristo – cujo nascimento se comemora no dia 25 de dezembro – é um exemplo de que a universalidade existe. Basta prestar um pouco de atenção. Seus ideais elevados, seus ensinamentos singelos, seus atos de misericórdia transcenderam todas as barreiras.

Jesus Cristo era judeu de baixa categoria na sociedade judaica e não se conformava com a hipocrisia religiosa da elite judaica. Fazia muitas amizades, dentro e fora do círculo judaico. Belas passagens da sua história dão conta da sua universalidade. Em Cafarnaum, Jesus curou o servo de um centurião romano. A caminho de Jerusalém, Jesus curou dez leprosos, entre eles um samaritano. Na casa de Simão e André, Jesus curou a sogra de Simão e muitas pessoas enfermas de diversas doenças.

O líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869 – 1948) tinha conhecimentos sobre Jesus Cristo e costumava citar seus ensinamentos. Ele disse a frase: "Se se perdessem todos os livros sagrados da humanidade e se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido". É fácil entender a qualidade das idéias ali contidas. "Bem aventurados os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, os que sofrem perseguição".

O Natal é uma comemoração livre a todas as pessoas. É uma boa oportunidade de lembrar a singeleza do nascimento de Jesus. De refletir no domínio que Jesus provou ter sobre os males da vida. De reconhecer que Jesus sempre teve sua atenção voltada para bem de todos.

Ninguém, como ele, ensinou boas condutas de maneiras tão simples. "Não julgue, se você não deseja ser julgado. Perdoe, se você deseja ser perdoado. Trate os outros como você deseja ser tratado. Atire a pedra nos pecadores, se você nunca pecou".

Que o Mestre Jesus nos abençoe todos neste belíssimo Natal.

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