Semiárido

por Reginaldo Villazón

Acontece uma luta, em nível mundial, que coloca em campos opostos pessoas de opiniões radicais. De um lado, estão aquelas que acreditam na agricultura ecológica sustentada como única forma de evitar uma crise global de alimentos e acabar com a fome no mundo. De outro lado, estão as pessoas ligadas às grandes empresas fornecedoras de máquinas, insumos e tecnologias agrícolas, que acreditam na agricultura técnica de alta produtividade. As primeiras se abrigam na chamada Agroecologia, as segundas no Agronegócio.

Recentemente, um pesquisador da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) revelou dados alarmantes que envolvem essa disputa. O semiárido brasileiro – que abrange 1.113 municípios em 9 estados, representa 18% da área do país e abriga 22 milhões de habitantes – está em processo de desertificação. Mais de 50% do território estão em fase acentuada de desertificação, sendo que 10% a 15% já enfrentam desertificação severa. Hoje, boa parte dos retirantes migra para os pólos de desenvolvimento do próprio Nordeste.

No semiárido brasileiro, as chuvas fornecem em média "500 mm de altura de água por ano". Isto quer dizer 500 litros de água por metro quadrado, mas concentrados num período de poucos meses. Na maior parte do ano, o sol brilha forte. As plantas e animais são adaptados às condições climáticas e às características da terra. Este sistema biológico natural, típico do semiárido brasileiro e único no mundo, chamado Caatinga ("mata branca" em tupi), vem sendo destruído pelo desmatamento e a madeira sendo utilizada como combustível.

Mas o desmatamento não é o único problema. Práticas agrícolas inadequadas danificam as terras – causando compactação, erosão, perda de fertilidade, perda de matéria orgânica, salinização –, contribuindo para a desertificação. Os problemas são antigos e bem conhecidos. Guardam semelhanças com outras áreas em desertificação no mundo. A agricultura proposta pelo Agronegócio não apresenta soluções seguras. Porém, no semiárido brasileiro há muitos casos de agricultores que aplicam com sucesso os conceitos da Agroecologia.

O perigo de haver sofrimentos em massa no planeta – por seus habitantes não se esforçarem em viver em harmonia com a natureza – parece cada vez mais inevitável. Já é possível antever grandes levas de migrantes se deslocando por cidades, países e continentes, fugindo dos efeitos da degradação ambiental. Se isto de fato vir a acontecer, não haverá poder político ou econômico suficiente para dar respostas à altura. Cuidar bem do semiárido brasileiro, hoje, é uma forma de antecipar soluções para problemas futuros.

No confronto com o Agronegócio, a parte fraca é a Agroecologia. Mas as conferências mundiais sobre temas sócio-ambientais (mudanças climáticas, desertificação, migrações, segurança alimentar, energia limpa, biodiversidade, poluição e outros) se fortalecem e pesam em favor da Agroecologia. Isto é motivo suficiente para que cada pessoa, cada família e cada comunidade se preocupem mais com as questões sócio-ambientais. Há responsabilidades e riscos em todos os lugares. Responsabilidades e riscos que pertencem a todos.

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