Olho por olho

por Reginaldo Villazón

O ataque praticado por extremistas islâmicos em Paris – em 07 de janeiro de 2015 – parecia estar superado; um episódio ruim em vias de esquecimento. Naquele dia, numa ação contra a publicação de caricaturas de líderes muçulmanos e do profeta Maomé, dois atiradores encapuzados invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo. Deixaram 12 mortos e 11 feridos. Nos dias seguintes, manifestações populares expressivas aconteceram na França e outros países, defendendo a "liberdade de expressão" e condenando o "terrorismo".

Mas houve vozes discordantes. Nem todos se deixaram influenciar pelas opiniões veiculadas pela mídia. Para estes divergentes, a liberdade de expressão exige limites (impostos pelas próprias pessoas que se manifestam) em benefício da convivência social respeitosa. E a palavra terrorismo – usada para designar as agressões perpetradas por grupos extremistas – deve ser estendida às operações militares ofensivas que devastam a natureza, arrasam cidades, matam e mutilam inocentes. Este é o terrorismo de Estado.

Na semana passada (sexta-feira, 13 de novembro de 2015), novos atentados sacudiram a capital Paris e a cidade próxima Saint-Denis (onde está o estádio Stade of France). Usando fuzis automáticos, granadas e homens-bomba, extremistas islâmicos mataram 129 pessoas e feriram mais de 350. A autoria da barbárie foi assumida pelo Estado Islâmico, uma organização radical que em pouco tempo superou a Al-Qaeda, de Osama Bin Laden. Hoje, domina territórios no Iraque e na Síria; tem milhares de combatentes e seguidores.

Da mesma forma – que em janeiro de 2015 –, agora a mídia induziu o mundo a se indignar contra os agressores e lamentar a tragédia francesa. Ninguém se lembrou do ataque aéreo dos EUA (40 dias antes) sobre o hospital da ONG internacional Médicos Sem Fronteiras, no Afeganistão, que matou 19 e feriu 37 pessoas. Ninguém foi contra os bombardeios da Força Aérea Francesa (dois dias depois) sobre a cidade síria de Raqqa, controlada pelo Estado Islâmico com mão de ferro. Não houve movimento pela paz mundial.

A França tem forte tradição cristã. Tem a Catedral de Notre-Dame de Paris, maravilha da arquitetura gótica com mais de 600 anos, celebrada por Victor Hugo no romance "O corcunda de Notre-Dame". Tem o Museu do Louvre com imenso acervo de relíquias que contam a história da humanidade. Mas os sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão bafejaram apenas as vítimas próximas. Os políticos – hipócritas, oportunistas, sedentos de popularidade – foram apoiados a intensificar as guerras lá longe.


A defesa contra forças invasoras, na medida necessária, é a única guerra justificável. Fora disso, guerras nada resolvem e são condenáveis por seus horrores e conseqüências. Organizações, grupos e partidos radicais prosperam onde há ódio, desespero, desesperança. Imagine, prezado leitor, o contrário. "Imagine todas as pessoas partilhando o mundo. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero que um dia você se junte a nós e o mundo viverá como um só. John Lennon".

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