Natal da recessão

Junji Abe
 
O brasileiro pretende gastar quase 15% menos do que no ano passado em suas compras de Natal. O gasto médio por presente deve ser de R$ 106,94 contra os R$ 125,22 desembolsados em 2014. A quantia cai para R$ 97,85, se considerados os compradores das classes C, D e E.
Esses dados constam da pesquisa SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas), realizada em todas as capitais. Até aqui, sem novidade. A economia nacional cambaleia com índices crescentes de inflação e desemprego, associados a quedas históricas dos níveis de atividade econômica.
As projeções nada animadoras vêm junto com o temor justificado do sumiço da fonte de renda. Trabalhadores vivem a tensão de perder o emprego. Pequenos empresários enfrentam a ameaça de encerramento das atividades. Todos nadam contra a maré. Há grandes lojas que nem contratarão temporários para o fim de ano.
O Natal de vacas magras chega com alerta máximo para que se evite dívidas. Sem dinheiro na mão, não compre. Se tem, pague à vista. Parcelar em cinco vezes no cartão de crédito foi a alternativa apontada por 27,7%. Mesmo sem juros, está longe de ser boa opção. O consumidor estará pagando a compra até maio, junto com os gastos do início do ano. E apostando num otimismo que a recessão oficial não inspira.
É tempo de prudência. Lembro da minha infância. Meus pais – imigrantes japoneses, agricultores – não podiam comprar presentes. Eram carrinhos de madeira de caixote de verduras ou bonecas de pano. Tudo feito em casa. O mais aguardado era o que tinha na mesa. Uma vez por ano, no Natal, a gente bebia refrigerante. Como era bom!
As dificuldades são grandes mestras. Crescer longe de farturas e do acesso desmedido às coisas que só dinheiro compra pode tornar alguém melhor preparado para enfrentar adversidades, muito mais solidário e avesso a desperdícios. Ser privado de presentes caros não traumatiza ninguém. Na verdade, ajuda a ensinar o valor das pequenas dádivas. Grande mesmo tem de ser o amor em família.
Quase tudo que, de fato, interessa na vida, não vem em pacotes coloridos, com laços e pompas. Surge da simplicidade. Vem do coração. Neste Natal da recessão, não faça dívidas. Faça as boas lembranças de amanhã. #ficaadica
Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)
 

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