Fatos novos

por Reginaldo Villazón
Os episódios que compõem o espetáculo político no Brasil, nos últimos tempos, pedem aos brasileiros uma pausa para reflexão. É preciso analisar os eventos políticos, de forma isolada, para avaliar a sua qualidade. E analisar o conjunto deles, como eles se sucedem, para estimar a direção da sua trajetória. Isto é fazer, tal como fazem os religiosos e esotéricos, quando interpretam seus conhecimentos para saber as tendências da vida. A finalidade é útil: adotar conceitos e comportamentos que sejam adequados a cada época.
 
O Escândalo do Mensalão teve início em 2005 com a denúncia de um esquema de pagamento de propinas a parlamentares que votassem a favor de projetos do governo. A CPI do Mensalão resultou num relatório que pediu a cassação de 18 deputados, mas teve efeito mínimo. Porém, o caso foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal), onde o processo foi conduzido de forma exemplar. O STF e seus ministros ganharam visibilidade no país e no exterior. No desfecho, 25 réus foram condenados. Entre eles, políticos e empresários poderosos.

A Operação Lava Jato, deflagrada em 2014 pela Polícia Federal, é a maior investigação de corrupção havida no país. Trata-se de um complexo esquema de desvio e lavagem de bilhões de reais da Petrobrás, envolvendo executivos, políticos e empreiteiros. Está em pleno curso – dividida em fases e processos –, reunindo esforços de muitos profissionais em vários níveis: ministros, desembargadores, juízes, procuradores, promotores, delegados. Desta força de trabalho, boa parte é jovem e sua totalidade muito competente.

A delação premiada (em que o réu confesso denuncia seus aliados em troca de vantagens penais) tem sido usada amplamente na Operação Lava Jato. De início, era vista pela população como uma atitude covarde e oportunista, mas acabou separando dois tipos de corruptos. Os que têm coragem de admitir seus crimes em público, citar valores, detalhes e nomes. E os que teimam em ficar por trás de mentiras e manobras jurídicas. Quem denunciou, submeteu-se à justiça, prestou contribuições importantes e suavizou sua reputação.

A classe política já se incomodava com o avanço da Operação Lava Jato. Na última quarta-feira (25), sofreu um terremoto. Um senador da república (no exercício do mandato) e um banqueiro (um dos mais ricos do país) tiveram prisão preventiva efetuada pela Polícia Federal, com permissão do STF e depois do Senado Federal. Não é possível prever as conseqüências. Mas o risco de punição a transgressores contumazes das leis é alto. Existem até notícias de que penalidades podem ser impostas por leis norte-americanas.

Parecia que as manifestações populares (de 2013 para cá) nada valeram. Parecia que as indignações e reivindicações do povo nas ruas se perderam no ar. Muitas pessoas ficaram cismando: o que pode acontecer para mudar a política do país? Há estes fatos novos. Eles não são suficientes para realizar as mudanças desejadas já. Mas indicam que existem saídas, que existem pessoas qualificadas em condições de lutar em nome do povo. Enfim, o país se move. Os brasileiros devem persistir nas suas manifestações.

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