Cara imundície

por José Renato Nalini

O município de São Paulo gasta um bilhão de reais por ano com a coleta de lixo. O tratamento de enfermidades decorrentes do descarte inadequado de lixo custa 370 milhões de dólares ao sistema de saúde pública do Brasil.

Temos mais de três mil lixões e a constatação de que esse dispêndio é insano para uma Nação com os nossos problemas foi feita pela International Solid Waste Association – ISWA, em parceria com o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana e com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza.

A forma pela qual a população se libera de seus resíduos sólidos é o maior atestado da falta de verdadeira educação do brasileiro. É comum encontrar trechos de passeios repletos de lixo. Assim como não é raro verificar que pessoas ocupando veículos de luxo jogam de dentro tudo o que não serve mais, sem se preocupar com o destino desse descarte.

Cerca de 75 milhões de brasileiros têm seus resíduos recolhidos em lixões ou quaisquer outros espaços impróprios. Os principais afetados por essa ausência absoluta do menor índice de educação cívica são os moradores das proximidades dos lixões, os catadores de materiais recicláveis e os trabalhadores na limpeza urbana. Toda forma de propagação já foi registrada no Brasil: contamina-se a pessoa vulnerável por uso de água poluída, contato com o solo envenenado, ar empesteado, fauna e flora já comprometidas.

A percentagem da população que efetivamente contrai as doenças não é grande. Mas o custo para o SUS no tratamento delas é de 500 dólares por pessoa. Por isso a estimativa de custos anuais supera 370 milhões de dólares e totalizará 1,85 bilhão em cinco anos.

A menos... A menos que os governos tivessem juízo e adotassem uma política eficaz e agressiva de "poluição zero". A mera existência de "lixões" depõe contra o Brasil. "Lixão" é coisa de quinto mundo, não da sétima economia mundial.

Com o maior desemprego que já se atingiu no Brasil, não custaria para os governos a contratação parcial desses desamparados pela proteção trabalhista, para que procedam a um trabalho conjunto: ao mesmo tempo em que recolhem os resíduos deixados em espaços que para tal não são destinados, podem educar a população a se servir de recipientes adequados para o descarte e a levar a sério essa advertência da ISWA. Se isso não vier a ser feito – e com urgência – morreremos no lixo. O pior, é que mereceremos tal punição.

*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo

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