Rumo político

 por Reginaldo Villazón
 
Até o apagar das luzes do século 20, há uma década e meia, os filósofos mais respeitados do planeta tinham uma imensidão de argumentos para afirmar que as ideologias existiam, tais como realidades palpáveis. As posições ideológicas de direita, esquerda e centro
geravam paixões, divergências e decisões nos ambientes políticos, com conseqüências
diretas na vida dos povos. A paz ou a guerra, a abertura ou a restrição, a cooperação ou a competição eram situações nacionais e supranacionais originadas das ideologias.Sem dúvida, a organização institucional política dos países democratas (como o Brasil), foi concebida de modo a viabilizar a participação de diferentes grupos ideológicos, permitindo o confronto de idéias, a luta pelo poder e o exercício do poder dentro de normas estabelecidas. As ideologias básicas – direita (conservadores), esquerda (progressistas) e centro (moderados) – foram estabelecidas conforme os perfis e as posições de assento dos políticos no parlamento francês durante a Revolução Francesa (1789 – 1799).
O embate político ensejou novas ideologias e linhas de atuação política. Os partidos foram se multiplicando: partido liberal, partido socialista, partido comunista, partido trabalhista, partido ruralista e outros. A luta de classes fez história. De um lado, os patrões capitalistas defensores das desigualdades sociais. Do outro lado, os trabalhadores socialistas defensores da igualdade social. Foi este cenário, no Brasil, que deu à luz o líder metalúrgico Lula e o Partido dos Trabalhadores.
A dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na última década do século 20, decretou o fim da ideologia de igualdade social. Na mesma época, começou a revolução tecnológica (internet, celulares, aplicativos) que mudou a cabeça e o comportamento dos povos. A política ideológica enfraqueceu. Hoje, no Brasil, boa parte do povo vê a política apenas como um meio de prover necessidades e aspirações coletivas. As manifestações de rua reivindicam bons serviços públicos e rejeitam os partidos políticos.
Já não faz muito sentido ter no governo um Partido Trabalhista, um Partido Liberal, um Partido Socialista, um Partido Comunista. Nem um Partido Verde, que é mais um movimento social do que uma sigla ideológica. Se o futuro dos partidos políticos for mesmo incorporar os movimentos sociais – Partido da Educação, Partido da Saúde, Partido da Reforma Agrária –, isto vai estabelecer o fim das ideologias. Há quem hoje já sustente: "na prática, existem apenas duas ideologias: a dos incluídos e a dos excluídos".
Este pode ser um forte componente da atual crise política brasileira: a sociedade cobra bom desempenho dos políticos; os políticos se entregam a intermináveis discussões "próprias da prática democrata". Mas o país não pode mais perder tempo. Se a sociedade hoje indica o rumo que deseja dar ao país, cabe aos políticos tomar decisões e providências para aprumar o país naquela direção. Discussões políticas longas não revelam democracia, mas incompetência. E, de quebra, expõe toda a estrutura governamental ao vandalismo.

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