Ilusões

por Reginaldo Villazón

Imagine-se um homem jovem, saudável e bem provido de bens materiais. Sua juventude e sua saúde podem ser observadas com os olhos. Para desfazer dúvidas, podem ser comprovadas por documentos e exames médicos. É válido dizer o mesmo do seu patrimônio material. Sua extensa fazenda em região de terras férteis e clima bom, coberta de pastagens e lavouras, dotada de benfeitorias e máquinas, sortida de animais e mantimentos, pode ser constatada pelos olhos e por documentos. Afinal, o homem e sua fazenda são coisas reais.

No entanto, este homem corre o risco de entrar numa crise de causar pena. Ainda que ele não tenha contraído dívidas nem feito gastos errados, uma crise econômica tem força suficiente para abatê-lo. Por exemplo, se a exportação de produtos agropecuários é paralisada por conflitos comerciais, os preços desses produtos caem no mercado interno. Isto gera prejuízos e inviabiliza as atividades agropecuárias. Eis o paradoxo, a contradição, a incoerência. Um homem rico na vida real se surpreende pobre na vida econômica.

Este assunto foi tema de debate entre muitos pensadores. Os textos escritos por eles são difíceis ao entendimento comum. Hoje, há analistas políticos e econômicos que se indignam com as crises que acontecem nos países ricos, como os da Europa. Eles reclamam que as crises se originam do modelo econômico adotado e das políticas econômicas praticadas. O baixo crescimento da economia e o desemprego são explicados apenas por fatores políticos e econômicos, como déficit público, dívidas privadas e taxa de juros.

Aqui, o Brasil está em crise. Indústrias reduzem suas atividades e demitem funcionários. O comércio faz promoções. Governadores e prefeitos se queixam de queda na arrecadação de impostos. As famílias espremem seus gastos. Mas o país é grande e rico! Tem capacidade para abrigar com fartura uma população bem maior! Não há nada de errado com o país! A crise está na política e na economia. Por elas, o país está em recessão com a queda do PIB e foi rebaixado na avaliação de uma agência financeira internacional.

A presidente Dilma Rousseff está reprovada pela população, menos de um ano após sua reeleição. Os senadores e deputados federais não representam os seus eleitores, porém os seus próprios interesses. A saúde, a educação, a reforma agrária, a preservação ambiental, as ferrovias e outros assuntos muito relevantes aguardam providências. Para piorar, toda essa realidade virou negócio. Tudo é viabilizado do ponto de vista financeiro: oferta, demanda, caixa, endividamento, juros, prazos. Tudo vale o seu preço.

O que é mais importante: a água limpa que jorra de um riacho ou a taxa básica de juros? Por que há tanto dinheiro investido na produção de quinquilharias, em vez de ajudar o saneamento básico? Políticos e economistas se entregam em discussões fora da realidade. O sistema financeiro mundial é o grande beneficiado. Nele, os especuladores vão à forra. Mas advirá o acordar. As ilusões humanas já produziram crises longas e doloridas, mas não eternas. A história humana neste planeta não vai terminar agora.

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