Eliminai-o!

*por José Renato Nalini

Era esperado que os conservadores bradassem contra o Papa Francisco. Dizem que sua oração – deles, os conservadores – é endereçada ao Espírito Santo: "Iluminai-o ou eliminai-o!". Mas é claro que o ranço, o bolor e a podridão dos sepulcros caiados não suportassem o Pontífice que se aproxima das minorias e que enxerga a todos – sem preconceito – como filhos de Deus.

Um Papa que enxerga o óbvio: o homem está a destruir o mundo, com a inclemência do maltrato à natureza, só poderia incomodar o egoísmo hedonista de quem não se importa com o futuro, pois sabe que daqui a pouco já não estará por aqui.

Imaginem os acomodados em sua zona de conforto ao ouvirem que a vez é dos imigrantes, dos pobres, dos excluídos e dos diferentes. E que todos terão lugar na "Casa do Pai, onde há muitas moradas...".

 
O Padre jesuíta Thomas Reese, que integra uma Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional nos Estados Unidos, prevê a reação dos republicanos em relação à próxima visita do Papa ao maior império do hemisfério. Para ele, um dos papeis do Papa é exatamente ser um profeta que "conforta os aflitos e aflige os que estão confortáveis".

Os conservadores ianques cultores do mais acendrado egoísmo já criticavam o Papa na Bolívia, quando ele condenou o capitalismo sem amarras, o regime selvagem que só enxerga o mercado e o lucro e distingue as pessoas como consumidores ou como lixo.

Todavia, os democratas também ficarão em situação de desconforto se o Papa criticar o aborto, como já tem feito. A vida é algo acima de qualquer outra conotação. Merece integral proteção. Embora o Pontífice já tenha acenado com a urgência de um planejamento familiar ao recomendar que não se procrie "como coelhos". A Terra já possui gente demais. Se não houver um controle, ela mesma cuidará de propiciar catástrofes que aliviem a sobrecarga.

A vida que se deve proteger é a vida digna, a vida com futuro, a vida amorável no acolhimento de uma família estruturada. Os mais esclarecidos já perceberam isso, daí o encolhimento dos núcleos daqueles pais que têm condições de educar sua prole. Mas os menos dotados de discernimento são justamente aqueles que povoam o mundo de crianças que já nascem estigmatizadas, condenadas a uma vida miserável, sem direito à fruição dos bens da vida que justificam trazer alguém a este conturbado planeta.

Aborto, nunca. Mas planejamento familiar sempre.

Vamos ver o que o Papa diz durante sua primeira visita aos Estados Unidos, de 22 a 27 de agosto, depois de passar três dias em Cuba. Novos tempos estes do formidável e humano Francisco.

*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo

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