Advertência

por Reginaldo Villazón
Este ano, mais um toque de advertência soou para chamar a atenção de todos para um perigo de consequências trágicas no mundo. As pessoas responsáveis pela advertência são cientistas confiáveis. E o perigo anunciado pode estar rondando a vida onde menos se espera. Por isto, o assunto deve entrar no rol das prioridades.

O grupo de cientistas da Universidade da Califórnia na cidade de Irvine (UCI) liderou um amplo estudo de dados coletados (de 2003 a 2013) por dois satélites artificiais GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment) da NASA. O objetivo foi conhecer as variações dos estoques de água subterrânea em grandes reservas hídricas do planeta.

Nos aquíferos, a água armazenada nas camadas internas do solo é retirada através de poços para consumo humano, industrial e agropecuário. Sua reposição é obrigatória pelas águas superficiais fornecidas pelas chuvas. Quando o consumo acontece em quantidade maior do que a reposição, o aquífero vai baixando o volume de água disponível.

Embora os estudos sejam preliminares, foi possível detectar que – dos 37 grandes aquíferos analisados – 21 deles (57% dos 37) ultrapassaram o ponto de sustentabilidade, ou seja, suas águas estão sendo mais consumidas do que repostas. Dos 21 aquíferos nessa situação, 13 deles (35% dos 37) estão sendo consumidos mais rapidamente. Isto indica que parte expressiva da população da Terra está consumindo água subterrânea sem saber até quando ela vai existir nem como será possível encontrar novas fontes.

O estudo mostra aquíferos importantes para milhões de pessoas, sofrendo esgotamento nas regiões árabe, indiana, africana e norte-americana. No Brasil, os aquíferos da Bacia Amazônica e da Bacia do Pará-Maranhão permanecem inteiros. Mas o Aquífero Guarani (sob Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina) já começa a dar sinais de rebaixamento. O que não está no estudo, mas é sabido, é que no Brasil várias regiões já secaram e seus rios morreram. Além disso, aqui as águas subterrâneas são contaminadas por agrotóxicos, lixões e esgotos.

O que poderá acontecer em regiões densamente povoadas, privadas de bons políticos e desprovidas de bons recursos públicos, vendo a água minguar nos poços de abastecimento, sem ter como resolver o problema de escassez de água? Sem dúvida, haverá levas de retirantes do desabastecimento, em retirada sem rumo certo.

A questão não pode ser colocada apenas nas mãos das elites políticas e econômicas. Ela pertence a todos, em todos os lugares do planeta. Não há uma providência única, mas todas as providências que beneficiem o meio ambiente. Até a redução das desigualdades entre ricos e pobres será necessária para eliminar os desperdícios e as devastações. Hoje, muita gente nem suspeita que as marchas de migrantes desesperados possam virar rotina no mundo.

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