Ao jovem advogado, por José Renato Nalini

 
Em tempos difíceis, o desalento costuma se apossar das mentes assustadas. Natural que os jovens questionem sua opção pelo Direito, quando se anuncia que o Brasil tem mais Faculdades do que a soma de todas as outras, existentes no restante do mundo.

Há futuro para as profissões jurídicas?

À evidência, tudo vai depender da força de vontade, do espírito de luta, da criatividade e do talento de cada qual.

O advogado de amanhã não será o decorador de códigos, ávido por ingressar em juízo e pronto a enfrentar a álea de um Poder Judiciário de mais de cem tribunais, com dezenas de recursos e uma duração infinita dos processos.

Há um rol imenso de expectativas, áreas de atuação e sedutores desafios.

Uma primeira postura é o advogado conscientizar-se de que ele não é mais o profissional do litígio. Nem tudo precisa do Judiciário para merecer uma solução satisfatória a todos os lados envolvidos.

Imergir em espaços nunca dantes abordados na formação jurídica auxiliará os que perceberem aquilo que estará reservado para os vencedores. Técnicas de argumentação, de persuasão, exercício de lógica, um pouco de psicologia e de compreensão humana será essencial.

O ideal para o novo advogado será formar uma carteira de clientes que nele confiem e nada realizem antes de consultá-lo. Prevenir litígios será muito mais eficiente e lucrativo do que estimulá-los. Quem consegue evitar um conflito judiciário, cujo final é imprevisível, será fiel ao seu advogado. E confiará nele muito mais do que se pudesse acusá-lo de ingresso em juízo para lide temerária.

Mas a advocacia tradicional também não pode ser descartada. Direito tributário é um campo cada vez mais relevante. O Estado não tem como suprir as necessidades decorrentes de um acúmulo de atribuições, senão lançando mão de uma política fiscal severa e gananciosa. Os tributaristas têm um longo percurso pela frente, na defesa do contribuinte sempre às voltas com o apetite do governo.

O direito empresarial continuará em alta, sobretudo para garantir a sobrevivência digna dos empreendedores que nem sempre – ou quase nunca – merecem o respeito da burocracia governamental.

O mundo se torna menor e o direito internacional é uma exigência inafastável. As fronteiras são convenções humanas e podem criar embaraços para a negociação global. É preciso dominar os ordenamentos estrangeiros e ofertar a alternativa mais hábil à efetivação de um bom negócio para todos os envolvidos.

A luta contra a corrupção necessita de juristas especializados em compliance, que saiba criar, estruturar e administrar os controles internos, elaborar as normas de conduta das empresas e sugerir códigos de ética, tudo para evitar que a empresa claudique numa área em crescente expansão.

No mundo da insegurança conhecer direito securitário será uma vantagem. Assim como trabalhar com o direito previdenciário, já que a população dependente do sistema de seguridade social só tende a crescer.

A judicialização da saúde impõe a urgência de conhecer os meandros da universalização que é falaciosa, pois quase tudo recai no âmbito dos municípios. Tratar com as entidades responsáveis pela saúde privada é necessário, pois os planos oferecem resistência a aceitar alguns tratamentos ou a ressarcir o paciente de gastos cuja urgência não tenha sido previamente analisada pelo pagador.

Continuará a ser indispensável o trato com as questões ambientais e urbanísticas, pois o esvaziamento da zona rural é fenômeno que não cessará. A cidade atrai e a conurbação enseja controvérsias entre Poder Público e cidadania, ou entre Poder Público e organizações não governamentais interessadas na preservação da qualidade de vida.

Todavia, e voltando ao início, o campo de maior interesse é o da composição consensual de controvérsias. Quem puder fugir ao Judiciário ficará grato ao profissional contratado, pois poupou não apenas dinheiro, mas tempo e angústia, o que não é pouco na vida atribulada que o Século XXI propiciou aos viventes.

*José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo



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