Vida de cão, por Flávio Carvalho

 
Realmente, quando chego em casa meu cachorro me sorri latindo e, com suas lambidas me sinto amado. E quando o tenho em meus braços posso sentir toda sua dependência, toda sua fragilidade. Dependendo da minha memória para se alimentar, para tomar água. Dependendo da minha vontade para passear e para namorar. Se eu não arrumar uma cachorra no cio, ele terá que se contentar com as pernas das visitas.

Já ouvi várias pessoas me dizerem: "Eu queria ter a vida do seu cachorro", e muitos disseram: "Eu queria ser o seu cachorro". Como estamos desesperados! Ou, como nossas vidas estão umas porcarias!

Acho que nós é que estamos tendo uma "vida de cão", muito sofrimento e pouco, muito pouco prazer. E em breve estaremos disputando os ossos com os nossos amigos caninos, pois estamos cada vez mais pobres. Estamos trabalhando "pra cachorro" e ganhando cada vez menos. A vida não está fácil para os "animais racionais", no mundo real a competição está dura demais. Está cada vez mais difícil garantir o pão de cada dia, a carne então, nem se fala.

Vocês sabem quais os ingredientes que compõem as rações caninas? Leiam a embalagem. Já estou pensando em passar a dividir a ração com o meu cãozinho pelo menos uma vez por semana, depois irei aumentando a quantidade de dias até passar a comer somente ração. Alimento rico em proteínas, que contém legumes, soja, fígado, carnes ou frango. Posso até estranhar no começo, mas o meu cocô vai sair duro e sequinho e os meus pelos vão ficar brilhantes e sedosos.

A música me manda: "trocar o meu cachorro por uma criança pobre, sem parente, sem carinho, sem rango e sem cobre, e se assim eu fizer deixarei na estória de minha vida uma notícia nobre. Eu tenho que ser mais humano, menos canino. Tenho que dar guarida para o cachorro, mas também para um menino. Senão corro o risco de um dia desses amanhecer latindo". Eduardo Dusek jamais deve ter tido um amigo canino. E olha que quando ele fez tal música era muito mais fácil conviver com "os racionais", pois hoje em dia mal nos agüentamos, o que dirá destes meninos cheios de energias, inteligência e muita informações? E disse o Dr. G.: "Quanto mais conheço os homens, mais amo meus cachorros".

Vida de cão! Cada vez mais homens a estão vivendo, mesmo sem nunca terem possuído um amigo canino.

Devemos amar cada vez mais nossos cães, ou qualquer outro bichinho de estimação. Mas é muito mais importante começarmos a nos amar. Nos amarmos como irmãos, filho de um mesmo Pai, e nos ajudarmos. Quando conseguirmos nos livrar de todo orgulho e egoísmo que ainda insistimos em carregar em nossas almas, continuaremos a levar uma "vida de cão".

Mister se faz que consigamos nos amar urgente, ou então teremos que aprender a latir.

Flávio Rodrigo Masson Carvalho equilibriumtc@hotmail.com

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