Seria cômico se não fosse trágico




Artigo
por Carlão Pignatari

 



Já faz algum tempo que as editorias de política dos jornais no nosso País podem ser confundidas por páginas policiais. A imprensa brasileira, em trabalho conjunto com outros órgãos, como o Ministério Público, vem dando uma aula de investigação policial. Este que não é seu fim acaba por tornar-se sua principal função: escancarar as portas do que é obscuro, obsceno, imoral e, certamente, ilegal. Feito isso, que a Justiça tome as rédeas e cumpra seu papel.

Muitos são os exemplos. Nesta terça-feira, a Folha de S. Paulo noticiou que o procurador junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Júlio Marcelo de Oliveira, acusou o Governo Federal de fraude e irresponsabilidade e recomendou a desaprovação das contas de Dilma no ano passado. O motivo é muito simples. Pense em você, trabalhador, trabalhadora, que tem um orçamento anual a planejar. Se gasta mais do que recebe, obviamente haverá um rombo no final do ano, o que seguramente vai comprometer a sobrevivência da sua família no ano seguinte. Sabendo disso, claro, vai ajustando suas contas ao longo dos meses. 

Como governante, a responsabilidade é a mesma. Existe uma previsão de arrecadação de impostos e em cima dela é feita uma proposta de orçamento. De acordo com índices e análise de mercado, pode-se prever se sua receita será maior ou menor. Se menor, e de posse desta informação, quem ainda manteria os gastos como se nada fosse? Só um irresponsável, podemos concluir. Não obstante, assim também concluiu o procurador Oliveira.

Este ano, por exemplo, a previsão de arrecadação no Estado de São Paulo é menor do que o orçamento aprovado no ano passado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. O que fez o governador Alckmin? Contingenciou em 15% todo o orçamento do Estado, menos as pastas de Educação e Saúde, que por lei têm suas cotas garantidas. Ou seja, com responsabilidade fiscal, cortou antecipadamente. Suspendeu gastos. Agiu como qualquer dona casa faria quando o dinheiro começa a terminar antes do mês. Desculpe, deixe-me corrigir: qualquer pessoa desde que esta não esteja em um Governo do PT.

Mas o que parece é que o PT vem se associando a algumas palavras mais do que seguramente gostaria e do que, sem dúvida, seria saudável para a sociedade brasileira. Fraude, irresponsabilidade e ligações ilícitas figuram lado a lado com a sigla da estrela em matérias das mais diversas.  Ontem, citando outro exemplo, foram reveladas mais de 2 mil páginas (isso mesmo, duas mil!) de telegramas trocados entre embaixadas brasileiras e o Itamaraty. Novamente a Folha de S. Paulo publicou reportagem denunciando que estes telegramas mostram que Lula interviu em países como África e Argentina em prol das empresas brasileiras Odebrecht e Andrade Gutierrez para que conseguissem entrar em obras internacionais. Texto extraído de um dos telegramas, remetido pelo embaixador do Brasil em Quito, Sergio Augusto Sobrinho, ao embaixador Celso Amorim afirma que “(...)a aceitação da proposta elaborada pela Odebrecht não teria sido possível sem a intervenção decidida de V. Exma. e dos presidentes Lula e Kirchner”. A obra de que a Odebrecht pode participar teve custo total de US$ 452 milhões. 

Uma boa vantagem comparada ao custo dos agrados que a mesma Odebrecht fez ao ex-presidente Lula. Em janeiro de 2013, como mostrou o jornal O Globo, Lula viajou para a República Dominicana, Cuba e EUA. O custeio da viagem, de R$ 435 mil, foi feito pela construtora baiana DAG, uma das parceiras comerciais da Odebrecht. Uma pechincha.

Por estes e outros motivos podemos entender o porquê de o PT fazer uma cruzada contra a imprensa brasileira. Mas graças, justamente, ao trabalho da mídia podemos tomar conhecimento das mazelas e desmandos de governantes que não têm nenhum compromisso com o dinheiro público, que trata com descaso as questões de Estado. Que a política tenha virado caso de polícia não é um tipo de piada pronta que podemos dizer nos faça rir. Infelizmente, nos comove com tristeza a infeliz realidade brasileira.

Carlão Pignatari, deputado estadual e líder da bancada do PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo


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