Regras, por Reginaldo Villazón

Estamos vivendo o tempo do politicamente correto. Tudo que possa soar ofensivo deve ser dito de modo diferente. O assunto é tratado – não como aprimoramento da linguagem e do comportamento dos seres humanos – mas como uma regra a ser respeitada. As mulheres não são mais "apenas mulheres", mas continuam ganhando menos que os homens pelo mesmo trabalho. Os deficientes físicos agora são "portadores de necessidades especiais", mas lutam para transpor obstáculos nas cidades. "Pobre é gente", mas é olhado com reservas.

A época favorece outras manifestações, como a defesa da tolerância contra a intolerância. De início, os defensores da tolerância contra a intolerância desprezam o significado destas duas palavras, como estão gravadas nas gramáticas e no pensamento das pessoas. Eles dizem que tolerância e intolerância foram consagradas na história de convivência e lutas entre grupos humanos diferentes. Assim, tolerância é a boa convivência com diferentes. Intolerância é a não aceitação da convivência com diferentes.

De fato, a história humana é cheia de encontros e desencontros entre povos diferentes. Se buscarmos saber do comércio no mundo, vamos nos admirar como os povos seguiam por longas rotas para trocar mercadorias, sem intenções bélicas. Mas a história registra muitas guerras entre povos que se odiavam por questões de religião e etnia. Católicos e protestantes já se mataram na Europa. Os nazistas alemães fizeram uma grande guerra em favor da supremacia da raça ariana. Ainda hoje, o nacionalismo motiva agressividade.

Fica difícil compreender, assim, a tolerância como inteiramente boa. Por outro lado, a intolerância como inteiramente ruim. Pois é desta forma que os defensores da tolerância contra a intolerância argumentam – "Não é possível relativizar estes conceitos: um é bom, outro é ruim." O resultado disso é – além da nossa submissão em dizer só o politicamente correto – sermos sempre tolerantes, sermos jamais intolerantes. No entanto, sabemos que a base de toda decisão civilizada é um código de ética.

Ser intolerante com o outro, porque ele é diferente (na cor da pele, na linguagem, na origem geográfica, na posição social, na condição física, na religião), não faz nenhum sentido ético. Se as diferenças não nos agradam (isto pode acontecer), a tolerância é o caminho certo para a convivência social. Mas as diferenças podem nos ser muito agradáveis, até valorizadas como riqueza de diversidade. Em outros casos, as diferenças vistas em pessoas injustiçadas devem despertar em nós a atitude de solidariedade.

Para nós – brasileiros, aqui no Brasil – é fácil ser tolerantes com os chineses que abatem e comem cães lá na China. Mas isto aqui, diante de nós, seria intolerável. Assim como seria intolerável aos indianos assistir a um grupo de brasileiros fazer um churrasco bovino. Enfim, muito cuidado com as regras. Falar com bom senso, sem provocar ofensas, é ser bom cidadão. A tolerância e a intolerância podem ser virtudes ou defeitos. Ambas são ferramentas preciosas para colocarmos em prática os nossos conceitos de certo e errado.

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