Tapa na cara, por Reginaldo Villazón

 
Nesta semana (quarta-feira, 27), um terremoto sacudiu o futebol mundial. Em Zurique, capital da Suiça, onde se localiza a FIFA – a poderosa federação internacional de futebol –, policiais suíços a paisana prenderam sete importantes dirigentes esportivos hospedados no tradicional hotel cinco estrelas "Baur au Lac". São eles: José Maria Marin (Brasil), Eugênio Figueiredo (Uruguai), Rafael Esquivel (Venezuela), Julio Rocha (Nicarágua), Eduardo Li (Costa Rica), Costas Takkas (Ilhas Cayman) e Jeffrey Webb (Ilhas Cayman).

A justiça suíça trabalha em colaboração com a justiça norte-americana. A ação policial da quarta-feira faz parte de uma investigação iniciada há três anos nos Estados Unidos. Ao todo, hoje há 14 pessoas acusadas de falcatruas no futebol mundial, que resultaram em crimes no território norte-americano, como transferência eletrônica fraudulenta e lavagem de dinheiro. As pessoas presas fora dos Estados Unidos podem ser deportadas para lá com a finalidade de serem julgadas e condenadas a cumprir penas. E isto pode ser apenas o começo.

Nesta mesma semana (segunda-feira, 25), em Brasília, a Câmara dos Deputados decidiu encerrar, sem votação, os trabalhos da comissão de reforma política. Um relatório do presidente da comissão foi levado diretamente para discussão e votação em plenário. A reforma política contempla mudanças em temas, como sistema eleitoral, financiamento de campanha, coligações partidárias, calendário eleitoral, reeleição e voto obrigatório. Temas relevantes para a vida dos brasileiros serão discutidos e decididos pelos deputados e senadores.

Parece que estes assuntos – cartolagem no futebol e cacicagem na política – nada têm em comum. No entanto, são dois exemplos de escuridão social. São de muitos milhões de dólares os prejuízos causados (a cofres públicos e cidadãos comuns) pela corrupção no futebol investigada pela justiça norte-americana. E a reforma política brasileira, sem participação e consulta social, é feita de acordo com os interesses dos políticos. Assim por diante, no Brasil e em outros países, os detentores do poder agem em favor da escuridão.

O francês Joseph-Marie de Maistre (1753 – 1821), filósofo e diplomata, grafou a frase: "Toda nação tem o governo que merece". Mais tarde, o austríaco Peter Drucker (1909 – 2005), pai da administração moderna, disse: "Não existem países subdesenvolvidos; existem países subadministrados". São duas verdades opostas que não se anulam. Basta observar. Nos países onde o povo tem ódio e intolerância, os líderes respeitam estes sentimentos. Mas os líderes também estimulam o ódio e a intolerância para se manter no poder.

A justiça norte-americana – investigando e prendendo os corruptos do futebol – como que dá um tapa na cara de autoridades e torcedores de futebol mundo afora. No Brasil, há muito tempo, a justiça e os torcedores de carteira toleram a corrupção, apesar de muitas denúncias. Quem sabe, isto comece a mudar. Quem sabe, muitos vejam que é possível mudar. Também na política, na qual a participação popular é essencial para a democracia.

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