Augusto dos Anjos, por Reginaldo Villazon

O ano de 2014 marcou duas datas importantes na cultura brasileira, ambas relacionadas à mesma pessoa. O dia 20 de abril celebrou 130 anos de nascimento do poeta paraibano Augusto dos Anjos. O dia 12 de novembro assinalou 100 anos do seu falecimento. Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (foto)

 viveu até os 30 anos e publicou um só livro. Mas sua obra lhe garante uma posição especial de destaque, respeito e admiração, confessada com emoção por todos os brasileiros que experimentaram sua genialidade.

"A mão que afaga é a mesma que apedreja." Quem nunca ouviu esta frase? Pois esta frase, muito conhecida, é um verso de Augusto dos Anjos. A presença dos seus versos – nas solenidades de 2014 – fez com que as homenagens se renovassem com força este ano. Neste mês de abril de 2015, no Estado da Paraíba, seu aniversário de 131 anos foi festejado com uma semana de eventos culturais. Isto é positivo porque promove assuntos atraentes que contribuem para o desenvolvimento das pessoas.

Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d‘Arco, no atual município de Sapé (PB), a 50 Km da capital do estado. Hoje, no lugar, há ruínas do Engenho Pau d‘Arco e da Usina Santa Helena (que sucedeu ao engenho). Há o Memorial Augusto dos Anjos (inaugurado em 2006 na casa restaurada da ama de leite do poeta) e a árvore (pé de tamarindo) cantada em versos.

Augusto dos Anjos iniciou sua educação com o pai, dono do engenho e formado em direito. Aos 16 anos, ingressou no Liceu Paraibano em João Pessoa (PB). Foi quando começou a escrever e publicar poemas em jornais. Formou-se em direito no Recife (PE) e voltou para João Pessoa (PB) como professor. Casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou a lecionar e escrever poemas. Em 1914, foi nomeado e assumiu o cargo de diretor de escola em Leopoldina (MG), mas pereceu de pneumonia.

O livro "EU", publicado em 1912 no Rio de Janeiro, causou espanto e críticas. O autor se ressentia dos sofrimentos próprios do seu tempo, tinha a mente agitada, lia muito. Por isto, seus poemas continham expressões técnicas mórbidas obsessivas. Mas, com o tempo, sua qualidade criativa foi reconhecida. Sem dúvida, cada pessoa tem seu jeito de expressar suas angústias, frustrações e tristezas. Enfim, suas crises existenciais. Augusto dos Anjos via o ser humano impotente, mergulhado em impurezas.


De fato, o ser humano existe na mistura de luz e sombra, verdade e mentira, virtude e defeito, higiene e sujeira, bondade e crueldade. Não há alguém totalmente puro ou impuro. Na vivência material e social, neste mundo, não há como excluir o bem ou o mal. Cada pessoa deve aprender a expressar seus lamentos e buscar decididamente seus ideais superiores. Muitas vezes, a melhor medida é manter o equilíbrio das forças opostas, de forma a não permitir a vitória das impurezas. A vida é um difícil caminho de aprendizagem.



Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

*

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

*
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

*
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!
 
 
 
 


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