Alvo errado, por Reginaldo Villazón

O elegante diplomata francês Damien Loras (44 anos) é casado com Alexandra Loras (38 anos), uma bela francesa formada em ciências políticas. Ele é um francês típico. Ela é filha de pai negro (africano) e mãe branca (francesa), tendo origem muçulmana e judaica. Ambos são livres dos bloqueios sociais medíocres que dividem etnias, culturas e religiões. Para eles, que sabem apreciar e valorizar as diversidades dos povos, não há explicações que justifiquem o desrespeito e a discriminação entre grupos sociais diferentes.

Damien Loras é cônsul geral da França em São Paulo há dois anos. Na semana passada, falando bom português, deu uma rápida entrevista num canal de televisão paulista sobre os recentes atentados armados praticados na França por muçulmanos. No cumprimento do dever, falou oficialmente em nome do seu país. Defendeu a liberdade de expressão. Condenou os atentados armados. Criticou a intolerância dos muçulmanos radicais. Afirmou que os valores tradicionais da sociedade francesa serão mantidos intactos.

Uma ironia do destino. O cônsul Damien Loras teve que repetir na entrevista o que os líderes políticos disseram como verdades a milhões de pessoas. Mas ele sabe que as diferenças sociais são corriqueiras, causam atritos, porém, só explodem quando há interesses. Na França, por exemplo, há dois partidos políticos de direita – a Frente Nacional (FN) e a União por um Movimento Popular (UMP) – que discursam: "Nosso maior problema é a presença dos imigrantes, responsáveis pelo déficit do governo e pelo desemprego."

Tal discurso tem objetivo de tirar proveito político, apontando os imigrantes como usurpadores que merecem sofrer medidas restritivas. Isto é mais do que semear discórdia, é semear ódio. Os dados oficiais desmentem. Os imigrantes na França são 11% da população. Assumem trabalhos que os franceses rejeitam em construção civil, manutenção, limpeza, oficinas, hospitais de subúrbio, agricultura. Ganham dinheiro e recebem benefícios sociais. Mas gastam em consumo e recolhem as obrigações devidas ao governo.

Pesquisa da Universidade de Lille revelou que em 2009 os imigrantes receberam benefícios do governo (educação, saúde, auxílio desemprego, auxílio moradia, renda mínima, aposentadoria e suporte à família) no valor de 47,9 bilhões de euros. Por outro lado, destinaram 60,3 bilhões de euros ao governo (encargos sociais, impostos e taxas sobre o consumo, impostos sobre a renda, impostos sobre o patrimônio, impostos locais e contribuições sociais). Assim, eles ajudaram o equilíbrio das contas públicas com 12,4 bilhões de euros.

As causas do déficit público e do desemprego são políticas. Os preconceitos sociais não se justificam. A partir deste século 21, os povos do mundo terão que se unir mais para cuidar melhor do planeta e sobreviver nele. Por ora, políticos sem zelo fazem poses de justos, mas alimentam o ódio e a violência. Recebem apoios importantes e usufruem o poder. O mercado mundial de armas prospera, as guerras não acabam, inocentes são vitimados. Mas é muito bom constatar que já existem muitas pessoas conscientes, que não se deixam iludir.

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