Integração difícil, por Reginaldo Villazón

No Brasil, a chegada do primeiro grupo de imigrantes japoneses no navio Kasato Maru no Porto de Santos, em 18 de junho de 1908, é motivo de festa geral. Vieram 165 famílias (781 pessoas) com destino certo de trabalho na agricultura. Até 1940, cerca de 160 mil japoneses chegaram para viver em terras brasileiras. Enfrentaram muitas dificuldades, mas se integraram à nova pátria e se tornaram brasileiros respeitados. A mesma saga foi empreendida com sucesso por portugueses, italianos, espanhóis, alemães, poloneses, árabes e outros.
Movimentos migratórios existem sempre. Os países, ora recebem, ora exportam grupos de migrantes. Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo vivam em países estrangeiros. Isto representa 3% da população mundial e 100% da população brasileira. Hoje, os Estados Unidos estão em segundo lugar na atração de imigrantes. Milhares de mexicanos tentam atravessar a fronteira norte-americana por ano. Cerca de 400 são mortos. A Europa ocupa o primeiro lugar na atração de imigrantes. Mais de 2 mil são mortos por ano.
O caso do jornal semanal (hebdomadário) francês Charlie Hebdo, que resultou num atentado que ceifou 12 vidas, mexeu na ferida que corrompe o tecido social dos países europeus. Mas a mídia aproveitou para fazer a cabeça do público e os políticos aproveitaram para fazer pose de mocinhos. A realidade dramática dos imigrantes na Europa não foi mostrada. A xenofobia praticada por setores europeus contra os estrangeiros passou em branco. A inépcia dos políticos em tratar estas questões sociais foi ignorada.
Atualmente, na Europa, europeus e estrangeiros lutam para conseguir o que todo ser humano quer. Coisas comuns. Uma casa boa de morar, um trabalho honesto, um sistema de saúde confiável, um sistema educacional qualificado, namorar, casar, ter filhos, almoçar com a família, festejar com os amigos, praticar a fé. Mas a Europa não está numa fase de progresso. A Europa está em crise. Os governos não têm recursos suficientes para atender as demandas sociais de toda população. O mercado de trabalho está saturado e provoca disputas.
Para tornar mais complicada a situação, a população européia envelhece e a taxa de nascimentos diminui. A contribuição dos estrangeiros não pode ser dispensada. O ambiente fica propício para propagar desavenças. Na França, há um partido político de direita (Frente Nacional) reconhecido como xenófobo e ultranacionalista. Na Alemanha e outros países, grupos neonazistas arregimentam jovens e cometem violências. Parece que não existem políticas públicas capazes de amenizar ou solucionar os problemas.
Cientistas sociais observam a importância de evitar que os imigrantes fiquem confinados em bairros periféricos. Eles precisam ter oportunidades para morar, estudar, trabalhar e conviver livremente na sociedade. Assim, eles assimilam o idioma e a cultura do país. Eles criam e fortalecem relações com as pessoas do país e geram uma consciência social. Diferenças culturais são preservadas, mas as aspirações comuns são valorizadas. Ademais, o tempo cura feridas, apaga ressentimentos, renova esperanças, aponta caminhos.

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