Tio Sam, por Reginaldo Villazón



A grande democracia ocidental – Estados Unidos da América – continua sob o impacto da violência policial. Manifestações populares – ora pacíficas, ora tumultuadas –, reunindo pessoas indignadas de todas as cores, exigem providências das autoridades sobre os casos de policiais que matam cidadãos negros desarmados. Os episódios mais recentes vitimaram Eric Garner (43 anos), Tyree Woodson (38 anos), John Crawford (22 anos), Michael Brown (18 anos), Dante Parker (12 anos), Ezell Ford (25 anos), Kajieme Powell (25 anos), Akai Gurley (28 anos), Tamir Rice (12 anos) e Rumain Brisbon (34 anos).
As autoridades responsáveis pela segurança pública e pela justiça analisam e julgam os comportamentos policiais dentro de normas tradicionais, sem dar ouvidos aos clamores das ruas. Os políticos insistem que as manifestações devem ser pacíficas, conforme as leis, mas não apresentam propostas corretivas. A onda de protestos bate às portas da Casa Branca. O presidente Barack Obama – de pai negro e mãe branca – reconhece que as instituições policiais do país são violentas e que as suas abordagens têm padrão agressivo.
A cidade de Nova York, no início da década de 1990, instituiu a política de Tolerância Zero, pela qual a polícia detinha infratores e a justiça impunha penalidades duras com o objetivo de eliminar completamente as condutas ilegais. A criminalidade caiu para a metade. Mas esta política vê todo cidadão como suspeito, favorece o abuso de autoridade e não soluciona as causas sociais dos delitos. Medidas alternativas, como os tribunais dotados de especialistas no atendimento de drogados, produziram resultados superiores.
Mas, historicamente, os Estados Unidos valorizam o poder e a autoridade para resolver questões internas e externas. Contrariando os discursos de democracia e liberdade, admitem no país a pena de morte e a prisão perpétua, colecionando erros e exageros nestas sentenças. Abrigam a sede da Organização das Nações Unidas – a ONU, que tem o objetivo de promover a paz mundial –, mas lideram a venda de armas no mercado internacional e realizam operações armadas em várias regiões do planeta para preservar seus interesses.
Isto faz lembrar o "Uncle Sam" (Tio Sam) – a figura do senhor de cartola alta e semblante sério, cabelos brancos e barbicha comprida, vestido das cores da bandeira norte-americana –, que personifica os Estados Unidos da América. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi estampado num cartaz com o dedo em riste na direção do espectador, com os dizeres "I want you for U. S. Army" (Eu quero você para o exército dos Estados Unidos), estimulando o recrutamento voluntário para a luta.
Pregando a paz, o líder indiano Mahatma Gandhi (1869 – 1948) libertou o seu país do imperialismo britânico. Falando em harmonia, o ativista afro-americano Martin Luther King Jr. (1929 – 1968) assegurou mudanças legais contra as desigualdades sociais no país. Com palavras nobres, o sul-africano Nelson Mandela (1918 – 2013) extinguiu o regime de segregação racial na África do Sul. Debatendo-se nas teias da intolerância e da violência, os Estados Unidos da América não são um bom exemplo de nação ao mundo.

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