Civilização, por Reginaldo Villazón

Estamos assistindo, com desencanto, o mega-escândalo de corrupção na Petrobrás, investigado pela Polícia Federal sob o nome "Operação Lava Jato". O esquema de contratos fraudulentos, lavagem de dinheiro e evasão de divisas movimentou cerca de R$ 10 bilhões. Estão envolvidos diretores da estatal, executivos de grandes empreiteiras e políticos de partidos importantes. Segundo analistas, existem ramificações robustas com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos estádios da Copa do Mundo.

Observando outras realidades, o Comitê Nobel Norueguês anunciou dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2014: o indiano Kailash Satyarthi (60 anos) e a paquistanesa Malala Yousafzai (17 anos). O engenheiro Kailash, em 34 anos de trabalho humanitário, salvou 80 mil crianças de maus-tratos e escravidão. A jovem Malala, desde os 13 anos, é ativista em favor do acesso à educação às meninas do seu país. Sofreu um grave atentado aos 15 anos. Recuperou-se e retomou sua luta pelos direitos humanos e pela educação.
É um disparate, como pessoas podem pensar e agir de maneiras tão opostas. Aqui no Brasil, pessoas de excelente formação educacional e elevada posição social se submetem a práticas indignas de rapinagem de dinheiro público. Alhures, no sentido inverso, pessoas do povo abrem mão de oportunidades de vida farta e confortável para dedicar-se de corpo e alma em ajudar os marginalizados e oprimidos. Qual será a lógica, qual será a racionalidade que permite comportamentos tão diferentes diante da vida?
Podemos dizer que todos os povos, desde a antiguidade, tinham regras para orientar a conduta das pessoas na sociedade, visando evitar e resolver conflitos. Bem conhecido é o Código de Hamurabi – o conjunto de "leis" escrito na pedra, hoje no Museu do Louvre –, atribuído ao rei Hamurabi da antiga Mesopotâmia, em 1.700 anos antes de Cristo. Funcionava como um código de leis, como nos dias de hoje, de pleno conhecimento da população. Assim, antes e hoje, quem rouba sempre sabe que isto é errado e pode ter punição.
Além do código de leis, há o código moral. O código moral – que os povos antigos também possuíam – é mais abrangente. Ele diz respeito ao indivíduo, mesmo no comportamento pessoal fora do alcance da sociedade. O código moral quase sempre está ligado à religião, à crença em uma divindade (ou mais) e à expectativa de vida após a morte. Atitudes como sinceridade, honestidade, respeito, gentileza, auxílio, perdão e outras são consideradas positivas e resultam em felicidade. As atitudes contrárias são ofensivas, são penalizadas.
É possível que as pessoas comuns – a maioria das pessoas – se movam em função das leis oficiais e da moral religiosa. Mas os corruptos e os altruístas, provavelmente, não. Os corruptos, porque não conseguem ser civilizados. Os altruístas, porque são civilizados. Assim, aos corruptos, porque não-civilizados, cabe vestir belas roupas, encher a pança e viver intensamente despreocupados. Aos altruístas, porque civilizados, cabe valorizar a simplicidade, repartir o pão com quem tem fome e segurar a mão dos infelizes.

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