Fator tecnológico, por Reginaldo Villazón

Os estudiosos da história humana são obrigados, em muitas ocasiões, a entrar em debates apaixonados. Um caso clássico é o confronto de duas teorias: criacionismo versus evolucionismo. A teoria da criação defende que o homem é um ser divino, gerado por Deus à sua semelhança num ato especial. A teoria da evolução argumenta que o homem é um produto da evolução natural das espécies, sem interferência divina. Esta pendenga ganha cores vistosas por suscitar a dúvida: o ser humano descende de Deus ou dos macacos?
De forma um tanto diferente, acontece o confronto entre outras duas teorias: determinismo versus livre-arbítrio. Para os deterministas, a história humana segue um roteiro previamente determinado por Deus, não existindo acaso nem ingerência humana. Para os defensores do livre-arbítrio, o ser humano é livre para construir a sua história e definir o seu destino. Na prática, as convicções caem por terra. Habitualmente, as pessoas expressam conceitos contrários de determinismo e de livre-arbítrio, sem qualquer constrangimento.
O filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan (1911 – 1980) escreveu, com décadas de antecedência, sobre as tecnologias de comunicação de massa e a globalização. Cunhou a expressão: "O meio é a mensagem". Ele explicava. O conteúdo de uma mensagem tinha interesse restrito. Já a mensagem tinha relação direta com o meio de comunicação utilizado. Por exemplos: contato por telefone fixo, carta por avião. Assim, o meio tecnológico utilizado pela sociedade, como mensagem de massa, produzia impactos sociais importantes.
McLuhan foi enquadrado no rol dos "deterministas tecnológicos". De fato, ele avaliou o quanto as vindouras tecnologias de comunicação de massa haviam de impactar o desenvolvimento da sociedade mundial. Hoje sabemos que a internet, o telefone celular, os equipamentos e aplicativos modificaram as habilidades e percepções dos jovens, promoveram informações e inovaram comportamentos no planeta. Apesar disso, a corrente filosófica contrária diz que as tecnologias são apenas ferramentas de uso sob a vontade humana.
Pergunta-se: a tecnologia determina a história ou é apenas uma ferramenta? Quem quiser tirar a dúvida, terá que estudar filosofia para conseguir entender longos textos de conceitos abstratos. Porém, de forma simples, é possível ver sociedades estagnadas, quando privadas de novas tecnologias. Ver sociedades em evolução, impulsionadas por novas tecnologias. A história mostra que os adventos tecnológicos estimulam o progresso humano. Mas, no final, o ser humano tem o poder de dominar as tecnologias.
É importante compreender os impactos tecnológicos em nossas vidas. Não podemos nos escravizar às tecnologias, nos expor a riscos desnecessários, nos manter conectados a superficialidades, nos deixar conduzir por formadores de opinião espertos, nos impossibilitar de ter uma vida social saudável. Infelizmente, grande parte da sociedade hoje caminha célere rumo a um futuro banal. Porém, o homem é a criatura que erra muito, mas supera seus erros, aprende, evolui e se eleva. Pois esta deve ser a sua faina, o seu destino.

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