Editorial: Vazio político

As eleições municipais de 7 de outubro de 2012 agitaram Jales. A população estava cansada do PT, o partido gerado na base da pirâmide social brasileira, que assumiu o poder executivo em Jales com bandeiras coloridas de mudanças, mas se arrastou por oito anos de gestão à distância do povo. Aquelas eleições representaram a oportunidade democrática de renovação na Prefeitura, bem como na Câmara de Vereadores. Elas alimentaram a esperança de um novo ciclo de progresso no município.
 Três candidatos a prefeito se movimentaram em 2012. Eunice Mistilides, apoiada por nove partidos; Flávio Prandi, por seis partidos; Clóvis Viola, por três partidos. O total de dezoito partidos políticos, devidamente registrados em coligações na Justiça Eleitoral. Nice, seu vice e sua coligação (PTB, PSDB, PRB, PDT, PSL, PSC, PSDC, PRP, PSD) venceram as eleições com 48% dos votos. Ganharam a preferência da maioria do eleitorado para assumir a Prefeitura e executar o plano de governo proposto.
 Flá, seu vice e sua coligação (DEM, PMDB, PTN, PR, PSB, PV) não lograram êxito, mas conquistaram a enorme fatia de 46% dos votos. Foram dignamente destinados a exercer grande influência política, segundo as regras democráticas. Clóvis Viola, seu vice e sua coligação (PPS, PT, PP) reuniram 6% dos votos, tornando-se uma minoria expressiva. Nas democracias, os ganhadores não assumem plenos poderes e os perdedores não são silenciados. Todos permanecem peças importantes do processo político democrático.
 Hoje, o governo Nice faz quase dois anos. Neste período, a prefeita não conseguiu confirmar suas promessas eleitorais. Seu discurso correto, antes do governo, deu lugar a procedimentos políticos e administrativos comparáveis aos dos governantes fracos da história de Jales. O povo se decepciona e assiste atônito à instalação de uma Comissão Processante na Câmara contra a prefeita, sem saber o que isto pode trazer de benefícios futuros.
 O pedido de instalação da Comissão Processante deveria ter surgido na Câmara, dentro das atribuições da casa. Mas a iniciativa implicou o Fórum da Cidadania e a OAB Jales, motivados no conteúdo do relatório final da Comissão Especial de Inquérito (CEI) sobre serviços de limpeza urbana. É um caso pontual. Nada tem a ver com o desempenho geral da prefeita, não inclui políticos nem partidos políticos. Mas a prefeita Nice pode perder o mandato e os analistas populares garantem que há nisso muitos interesses ocultos envolvidos.
 Nice pode sair intacta deste episódio, mas muito desgastada. Ou pode perder o posto para o vice-prefeito, Pedro Callado. De qualquer maneira, os próximos dois anos deverão ser péssimos. Ainda mais, porque desaguarão nas eleições 2016. Isso faz lembrar coisas ruins. Depois que o prefeito Guisso morreu, em 21 de novembro de 2001, Jales passou por três anos de crise, trocando de prefeitos. Em 2005, Parini tomou posse e gastou muito do seu tempo de prefeito em correr atrás dos seus problemas na justiça.
 Nestes dois primeiros anos de mandato, Nice teve seus méritos. Recebeu um meio-caos das mãos de Parini, mas manteve o pagamento dos funcionários em dia. Obteve algumas boas conquistas, como recapeamento de ruas e construção de prédios para o Programa Saúde da Família (PSF). Porém, manteve uma equipe submissa e incompleta, sem o Chefe de Gabinete do Poder Executivo e os titulares de duas secretarias (Obras, Serviços Públicos e Habitação – Esporte, Cultura, Lazer e Turismo). Por isto, evitou delegar poderes e agiu de forma concentradora. Ela tentou estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas não esteve disponível para manter diálogos e contatos produtivos com a comunidade e as instituições.
 Apesar das crises político-administrativas, Jales não ficou estagnada, mais por conta dos empreendedores rurais e urbanos. Porém, uma prefeita que se desgasta facilmente (exemplos: a queda-de-braço com o funcionalismo e a não-distribuição dos uniformes escolares este ano), uma equipe desarticulada de vereadores e um elenco inoperante de partidos políticos freiam o desenvolvimento, retardam conquistas importantes. Enquanto isso, outras cidades resolvem seus problemas, levantam recursos, executam benfeitorias, progridem mais.
 A prefeita e os vereadores não podem prometer uma coisa e fazer outra muito diferente. Isto é iludir o povo e iludir-se. Eles têm que abandonar tradições erradas e fazer o modo certo. O passado é passado. A realidade é presente. A ação se faz hoje. Todavia, o buraco é maior. Onde estão os nove partidos que avalizaram a candidata Nice? E os outros nove partidos que respaldaram Flávio Prandi e Clóvis Viola na campanha de interesse municipal?
 Os partidos políticos são as bases instituídas para a participação política. Eles não se desfazem após as eleições, eles não deixam de existir nos intervalos das eleições, eles continuam sempre ativos com suas atribuições políticas. As agremiações partidárias de Jales parecem dizer ao povo: "Nós não nos responsabilizamos por nada, não nos afetamos moralmente com nada, não temos nada a ver com a situação político-administrativa de Jales". Seus líderes e filiados não avaliam o tamanho do prejuízo que causam, por se recusarem a discutir idéias, construir planos e unir forças em torno de projetos relevantes para o município.

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