Anseios difusos, por D. Demétrio Valentini


Paira no ar um difuso descontentamento, uma insatisfação indefinida, um generalizado desejo de mudança.
A situação atual encontra um denominador comum, não em propostas objetivas no cenário político e econômico, mas no clima subjetivo, que faz multidões participarem de eventos onde os objetivos não são formulados nem expressos de maneira clara e consistente.
A força da emoção subjetiva parece dispensar a definição das necessárias transformações a serem feitas.
Em tempos de campanha eleitoral, este sentimento pode levar a opções que satisfazem o desejo de mudanças, mas que levam consigo as contradições subjacentes, que não tardariam em acumular impasses, que amargurariam decepções tardias.
O outro lado desta moeda, que está sendo empenhada com ênfase nesta Semana da Pátria, é o pouco entusiasmo com que se encaram propostas concretas e específicas, elaboradas com muita dificuldade de consensos mínimos.
São várias propostas em andamento, que mereceriam, certamente, mais atenção e poderiam suscitar debates mais objetivos, em vista de municiar planos concretos de governo.
Existe em andamento uma "iniciativa popular de lei" sobre a Reforma Política, fruto de uma "coalizão" de entidades, ente as quais se destacam a CNBB e OAB, com sua força emblemática. Seria o caso de aproveitar o clima da Semana da Pátria para uma ampla difusão da proposta, e de adesão a ela por meio de assinaturas dos eleitores. Mas, tanto o debate, como o incentivo para a coleta de assinaturas, não correspondem à importância da proposta.
Parece que o amplo desejo de mudança não se satisfaz com a prosaica elaboração de uma lei.
E assim com as outras iniciativas, de resto muito generosas, que estão sendo realizadas neste ano por ocasião da Semana da Pátria.
Entre elas, destaca-se a realização de um plebiscito popular, não oficial, propondo a convocação de uma assembleia constituinte soberana e específica para realizar a Reforma Política. Esta iniciativa, se contasse com uma entusiasta adesão dos eleitores, poderia deixar o caminho aberto para que finalmente, neste próximo mandato, fosse feita esta reforma que vem patinando há décadas. Mas, cadê o entusiasmo? Parece mais cômodo deixar que os outros façam o que faz parte de nossos desejos. Mas será que farão?
No próprio Sete de Setembro, continuam duas iniciativas tradicionais, muito vinculadas ao Santuário de Aparecida, que são a Romaria dos Trabalhadores e o Grito dos Excluídos.
Os lemas destas duas iniciativas, também eles, se coadunam mais com o generoso anseio de mudanças, do que com a elaboração concreta de propostas específicas. O lema do Grito parece narrativo, e tenta se vincular com manifestações já ocorridas: "Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos". E o lema da Romaria dos Trabalhadores: "Mãe Negra Aparecida padroeira deste chão, o povo trabalhador não aceita escravidão".
Diante do difuso desejo de mudanças, fica o desafio de discernir as opções que o tornam viável, adequado e efetivo.
Temos o voto para expressar nossa vontade.

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