Meia solução, por Reginaldo Villazón

Historicamente, o acesso à propriedade das terras para morada e produção agropecuária foi subordinado ao poder das minorias governantes. Por exemplo, no Brasil colonial, o reino português utilizou o sistema de sesmarias para distribuir grandes glebas de terra e viabilizar a produção de alimentos. O sistema foi extinto em 1822. A partir de então, foi instituído o comércio de terras. Foi assim que, somente através de operações de venda e compra, surgiram novos proprietários rurais e mais tarde novos proprietários de lotes urbanos.
Sem dúvida, o planejamento e a ocupação das cidades – contemplando espaços privados e públicos – sofreram (e sofrem) grande influência do mercado imobiliário. O fator econômico foi responsável por diferenças importantes na localização, no tamanho e na qualidade das benfeitorias privadas e públicas. Na época da industrialização do país, a migração de trabalhadores do campo para as cidades criou grandes bairros operários. As favelas – assentamentos precários – se propagaram pela necessidade dos desprovidos de recursos.
Embora os governantes disponham de ferramentas para organizar a ocupação urbana – o plano diretor estratégico, a desapropriação de imóveis, os planos de construção de casas populares – a deterioração urbana é visível nas últimas décadas. Em muitas cidades, o crescimento da população e do número de automóveis pressiona a disputa pelo espaço em níveis insuportáveis. Além disso, hoje as desigualdades sócio-econômicas ocupam espaços físicos próximos. As drogas têm muitos consumidores. A violência desafia.
Para evitar estes problemas, a opção encontrada pela população de maior renda é residir nos condomínios fechados. São altos edifícios ou bairros extensos, cercados de grades e muros, guardados por segurança humana e eletrônica. Lá dentro, conforme alardeia a propaganda dos construtores, os residentes podem morar tranquilamente, fazer boas amizades, praticar esportes, aproveitar áreas de lazer, estar em contato com a natureza. Sem desmerecer, isto pode acontecer ou não, pois vai depender da qualidade dos residentes.
Os condomínios fechados, na melhor avaliação, são apenas uma meia solução. Eles não fazem melhorar a vida nas cidades e ninguém pode viver o tempo todo dentro deles. Além disso, podem apresentar perigos. Vícios e maus comportamentos podem ser introduzidos pelos próprios residentes, resultando em riscos para todos. A convivência interna pode ser marcada por atitudes de intolerância contra tudo o que foge do padrão, da igualdade sócio-econômica. O isolamento inibe a interação dos residentes com as pessoas da cidade.
No Brasil e no mundo há estudos e experiências que mostram como é possível investir com sucesso nas cidades, melhorando a mobilidade das pessoas, recuperando bairros degradados, adequando espaços para esporte e lazer, instalando recintos culturais, purificando lagos e córregos, protegendo a fauna e a flora, produzindo alimentos em hortas. Geógrafos e urbanistas indicam que novos modelos de desenvolvimento urbano já estão em andamento. As cidades do futuro começam a existir. É preciso o povo acreditar nisto.

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