O mundo da Copa, por D. Demétrio Valentini

 
Enquanto a bola continua rolando, a cabeça vai fervendo. Sobretudo conferindo a diversidade de países representados nesta competição esportiva. A copa do mundo faz pensar no mundo da copa.
Não há dúvidas que o evento é muito significativo. Mas ele não se furta a questionamentos, que certamente terão o seu espaço maior depois que a copa terminar.
Emergem, sobretudo, questões que interpelam o país que sedia a copa do mundo. Elas requerem tempo para serem bem assimiladas. Para o Brasil, a copa vai continuar, seja qual for seu resultado esportivo.
Um evento com estas dimensões tem, em primeiro lugar, uma dimensão universal. Não por nada, ele se identifica em relação com o mundo. É uma "copa do mundo".
Neste sentido, uma primeira constatação se refere à representatividade dos países que se classificaram para esta competição. Pois não devemos esquecer que este momento final é precedido das eliminatórias, que levam este nome pesado e negativo. Poderiam ser chamadas de "classificatórias".
Pois bem, neste sentido, a copa do mundo ainda não é bem de todo o mundo. Muitos países acabaram sendo eliminados no período preparatório.
Ressalvado este fato, nota-se que ainda existe um desequilíbrio estrutural de representatividade, que deveria ser corrigido. Salta aos olhos, por exemplo, a desproporção entre a Europa, que conta com treze participantes, e a Ásia, que conta só com três: Japão, Coréia do Sul e Irã!
Mas o olhar geográfico ainda é superficial. O verdadeiro desafio que a copa do mundo apresenta, não é explicitado pela competição. Por trás dos vistosos uniformes, se escondem pesadas realidades. Ficam ocultas, confinadas dentro de cada país. Deveriam ser postas à mesa, para serem assumidas solidariamente, como parte de um mesmo mundo que interessa a todos.
O esporte aponta ainda com muita timidez para estas situações. Elas contam, sobretudo, com uma cumplicidade difusa de governantes e de governados. O mundo ainda não é assumido solidariamente por todos.
As estatísticas garantem que existem perto de um bilhão de famintos, que poderiam ser alimentados com as sobras descartadas nas mesas dos que gozam de fartura. Em alguns países, sobretudo da África, a fome dizima milhões de pessoas, sobretudo crianças. Não há crise de alimentos. Há falta de solidariedade. Os estoques existentes seriam suficientes para garantir alimentação para toda a humanidade.
Mas existe uma outra realidade intrigante, que não é colocada às claras. Em entrevista ao jornalista espanhol Henrique Cymerman, o Papa Francisco levantou uma questão muito séria, e que não está sendo devidamente enfrentada.
Trata-se de assassinatos por motivos religiosos, praticados por fundamentalistas de diversas facções, existentes em alguns países da África e da Ásia. O Papa chamou a atenção para as estatísticas, que trazem uma comparação histórica muito provocativa. O número de cristãos mortos em nosso tempo por extremistas muçulmanos já supera o número de "mártires" dos primeiros séculos, sob a perseguição do império romano!
É certamente salutar vivermos momentos de congraçamento esportivo, que veste ao menos as aparências da fraternidade universal. Mas é urgente que esta fraternidade se torne efetiva, pela superação da violência, pela erradicação do ódio, e pela supressão das injustiças.
Então o esporte se tornará uma escola de convivência fraterna entre povos e nações. E a Copa será mesmo de todo o mundo!

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