Diálogo entre as culturas, por D. Demétrio Valentini

 
A meio caminho de sua realização, a Copa do Mundo já garantiu o recado importante, inerente à sua envergadura mundial. A diversidade de participantes coloca em destaque a harmonização das diferenças, como desafio permanente para afirmar valores culturais e ao mesmo tempo relativizar suas expressões singulares.
As diferenças se tornam positivas, quando valorizadas e reconhecidas. Mas podem também se transformar em motivo de tensão e de conflito, quando desprezadas ou mal interpretadas.
O caminho para aproximar culturas, e resultar em riqueza comum, é o diálogo. Ele supõe aproximação, abertura para o outro, escuta e apreço pelo diferente.
O processo de diálogo entre as culturas é complexo, e encontra sua melhor concretização em expressões artísticas, portadoras de mensagens, decodificadas intuitivamente pela própria beleza que manifestam. A arte tem sua capacidade própria de se revelar.
No contexto cultural de um povo sobressai a religiosidade, que se expressa por um conjunto bem definido de motivações e de práticas. A religiosidade suscita religiões, que se definem por um conjunto de afirmações teóricas e de práticas comportamentais, apresentando uma cosmovisão que abrange a totalidade do universo, ao mesmo tempo em que se detém na singularidade do cotidiano.
As religiões se transformam, por sua própria dinâmica, em sujeitos sociais, cuja atuação varia de acordo com as lideranças que se apossam delas.
Por serem bem concretas, e terem um conjunto bem definido de verdades, as religiões podem se tornar em fator muito eficaz de entendimento e de paz.
Quando visualizamos o mundo todo, representado pelos países participantes desta copa, percebemos a distância que ainda existe entre as culturas e as religiões.
Por sua estrutura mais definida, a religião explicita mais claramente o conjunto de suas crenças e de suas práticas.
No contexto de um mundo que virou aldeia global, com direito a livre circulação de todas as culturas e religiões, o diálogo se torna a primeira urgência a ser praticada.
A Igreja se deu conta da premente necessidade de diálogo entre as religiões, no Concílio Vaticano II, quando emitiu uma declaração muito clara e enfática, no sentido de respeitar e valorizar as diferentes expressões religiosas, sobretudo das três grandes religiões que se encontram histórica e geograficamente bem próximas.
Trata-se das "religiões do livro": o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Como todo o diálogo, para prosperar, requer o reconhecimento do outro, o documento do Concílio sobre as grandes religiões faz uma breve apresentação, muito positiva, dos valores da religião judaica e do islamismo.
Dos judeus o documento afirma: "A Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da fé e de sua eleição já se encontram nos Patriarcas, em Moisés e nos Profetas, segundo o mistério salvífico de Deus".
E a respeito dos muçulmanos afirma o Concílio: "Quanto aos muçulmanos, a Igreja os vê com carinho, porque adoram um único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens".
Portanto, por maiores que sejam as diferenças entre as religiões, sempre é possível lançar pontes, para iniciar um diálogo e levá-lo em frente, aplainando os caminhos do entendimento e da convivência fraterna.

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