Alargar os horizontes, por D. Demétrio Valentini

Causou surpresa o compromisso assumido em Jerusalém, entre o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu, de se encontrarem em Nicéia, no ano de 2025!
Para dois quase octogenários, fazer planos para além de dez anos, seria no mínimo arriscado, se não estivessem falando em nome das instituições que representam. No caso, a Igreja Católica, e a Igreja Ortodoxa.
Marcando encontro na cidade de Nicéia, onde se deu há mil e setecentos anos, o primeiro Concílio Ecumênico, eles explicitaram a dimensão histórica da Igreja, indispensável para dimensionar sua consistência.
A Igreja traz a marca de dois milênios. Ela não é de ontem, nem de anteontem. O componente histórico é imprescindível para avaliar seu estado atual.
A constatação de que a Igreja tem um passado, lhe dá garantia de ter um futuro.
Por mais conturbado que tenha sido o passado, seu valor pode ser recuperado, para ajudar a superar os impasses que o presente coloca.
Ao pensarem no ano de 2025, o Papa e o Patriarca jogaram com a dimensão histórica, e a colocaram a serviço de suas propostas de futuro.
Em 325 se realizou em Nicéia o primeiro concílio ecumênico. Quem sabe em 2025, mil e setecentos anos depois, no mesmo local se poderá selar de vez a plena comunhão eclesial entre Católicos e Ortodoxos, para benefício de toda a cristandade.
Mas, se for necessário esperar mais um pouco, a história ajuda as demoras humanas.
Pela frente temos outra data simbólica. Foi em 1054 que as duas tradições eclesiais romperam oficialmente sua comunicação. Pois bem, se não ficar tudo resolvido em 2025, podemos aguardar o 2054! Quem tem uma longa história, pode se valer de sua trajetória.
Mas além das demoras, existem as urgências. Elas também estiveram presentes no encontro dos dois ilustres personagens. As demoras eclesiais podem até continuar, sem grandes prejuízos. Mas as urgências da paz não podem protelar as soluções.
O Papa Francisco pediu que seja retomado o diálogo entre palestinos e israelenses, e que todos colaborem para fazer cessar a guerra civil na Síria.
Em vista da urgência destas conversações, tomou a decisão pessoal de oferecer o Vaticano como mesa de negociação. A proposta foi aceita, e todos agora aguardam sua efetivação, pois caso demore, ela perde viabilidade. Aqui, a história não aconselha demoras, ao contrário, ela pede urgência.
O grande ganho da visita é este fato novo, da mediação aceita por ambas as partes, sob o patrocínio deste Papa que está se revelando um personagem de grande aceitação mundial. 
Na mesma perspectiva de datas importantes que temos pela frente, vai emergindo o ano de 2017 como particularmente significativo, sobretudo para o contexto religioso.
Em 2017 se completam 500 anos do início da Reforma Protestante. E no Brasil se completam 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba.
Dois fatos que certamente têm apelos fortes, embora em âmbitos bem diferentes. Caberá à sabedoria pastoral integrar bem as duas referências, e valorizá-las como boa motivação para que sejam dados passos positivos no avanço da causa ecumênica entre as Igrejas Cristãs.

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