Olhares inocentes

Reginaldo Villazón

As guerras existem há muito tempo. Não é possível afirmar com convicção que as guerras fazem parte da natureza humana, que a criatura humana saiu das mãos do Criador com o dom de fazer guerras. Mas elas existem há muito tempo. A primeira guerra, registrada na Bíblia, está escrita no primeiro livro (Gênesis), no capítulo 14. Quatro reis (Quedorlaomer, Anrafel, Arioque e Tidal) guerrearam contra cinco reis (Bera, Birsa, Sinabe, Semeber e Belá), porque estes se rebelaram após 12 anos de servidão. Os quatro venceram os cinco.

Depois da primeira, o mundo não parou de ter guerras. A lista é enorme. Para facilitar o estudo, elas são grupadas de acordo com a época. Por exemplo, guerras da Idade Antiga, da Idade Média, da Idade Moderna e da Idade Contemporânea. Os historiadores têm a preocupação de identificar suas causas (políticas, ideológicas, econômicas, étnicas, religiosas). Eles observam que as causas verdadeiras, assim como as realidades ruins, são encobertas por mentiras. Mas que as guerras contribuíram com o desenvolvimento da humanidade.

As campanhas dos grandes conquistadores exaltaram a sede pelo poder, a ganância por riquezas, a selvageria. Mas, de fato, deixaram rastros positivos. Alexandre, o Grande (356 – 323 a.C.), rei na Macedônia, uma cidade-estado no Norte da Grécia Antiga, subjugou povos e difundiu a cultura grega. Átila, Rei dos Hunos (406 – 453), asiático estabelecido no leste europeu, flagelou populações e difundiu a arte criar e montar cavalos. Gêngis Khan (1162-1227), imperador da Mongólia, dominou nações e fomentou o comércio mundial.

Após a segunda guerra mundial, em 1947, o livro "O diário de Anne Frank" mostrou a guerra vista por uma adolescente. A jovem judia alemã passou dois anos escondida, com sua família, da perseguição nazista no anexo secreto de um prédio de Amsterdam (Holanda). "Em tempos assim fica difícil. Ideais, sonhos e esperanças crescem em nós somente para serem esmagados pela dura realidade. Mas me agarro a eles porque ainda acredito que tudo mudará para melhor, que a crueldade terminará, que a paz e a tranqüilidade voltarão".

Em fevereiro/março deste ano, a fundação humanitária Najda Now International, patrocinada pelo governo da Noruega, realizou em Beirute, capital do Líbano, uma exposição de 166 desenhos e esculturas de barro feitos por crianças refugiadas da guerra civil na Síria. Esta guerra matou mais de 135 mil pessoas e fez cerca de 2,5 milhões de refugiados desde 2011. Os trabalhos das crianças mostram momentos felizes com familiares, lembram parentes mortos na guerra, retratam morte e destruição, expressam o desejo de paz no futuro.

Sob os olhares inocentes dos jovens e crianças, as guerras não possuem causas ou justificativas, finalidades ou vantagens. Não representam a luta entre o bem e o mal, entre mocinhos e bandidos. As guerras são, simplesmente, guerras. Elas causam medo, sofrimento, perdas e frustrações. Elas destroem vidas, famílias e anseios. Enfim, é possível entender que as guerras são fruto da ignorância, da incompetência e da insanidade humana. As tais causas políticas, ideológicas, econômicas, étnicas e religiosas são apenas argumentos.

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