O poder armado

por Reginaldo Villazón

Há 50 anos, em 31 de março de 1964, aconteceu o golpe militar que submeteu o Brasil – por duas décadas – a governos escolhidos e sustentados pelas forças armadas. Cinco presidentes militares (Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo) assumiram o poder sem eleições populares. Somente em 1985, após a escolha do político mineiro Tancredo Neves, aceita pelos militares diante da pressão das manifestações democráticas, o país voltou a ser governado pelos civis e se redemocratizou.

Emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas abriram espaço para divulgar dados históricos e entrevistas sobre aqueles anos de chumbo no Brasil. Ganharam destaque os casos de censura, perseguição, prisão, tortura, morte e desaparecimento de cidadãos brasileiros, em nome da segurança nacional. A criação do bipartidarismo (ARENA, partido forte da situação; MDB, partido fraco da oposição) e a decretação do Ato Institucional 5 (dando amplos poderes aos militares presidentes da república) fragilizaram a classe política.

Hoje há boas informações para saber em que circunstâncias os militares tomaram o poder. A economia ia mal. Havia escassez de produtos de primeira necessidade, inflação alta, greves de trabalhadores e insatisfação geral. Na política, o confronto ideológico entre direita (capitalista) e esquerda (socialista) causava turbulência em plena guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Quando o presidente João Goulart (1919-1976) anunciou reformas, entre elas a reforma agrária, as forças conservadoras realizaram o golpe.

O presidente João Goulart não era comunista, como pensaram. Ele era um rico fazendeiro, hábil negociante, formado em direito e apaixonado por mulheres. Era conterrâneo de Getúlio Vargas (1882-1954) – ambos de São Borja RS – e seu herdeiro político. Portanto, um nacionalista comprometido com reformas. Suas atitudes moderadas pareciam denunciar fraqueza, mas ele nunca quis colocar o país numa luta interna com derramamento de sangue. Assim, por decisão própria, exilou-se no Uruguai e depois na Argentina.

Um fato paralelo às recordações de 1964 aconteceu no sábado (22/março/2014), no centro da cidade de São Paulo. Cerca de mil pessoas, conforme estimativa da Polícia Militar, tentaram reeditar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada por 500 mil pessoas em 19 de março de 1964, em favor do regime militar. Desta vez, a ameaça comunista foi apontada no Partido dos Trabalhadores. Além disso, anunciaram que a volta dos militares ao poder vai acabar com a corrupção e melhorar os serviços públicos.

Sem dúvida, não é justo condenar os governos militares e ignorar que os governos civis também produzem violência, tortura e morte. Hoje, apesar de a política e a administração pública estarem em colapso no país, não há condições propícias para a volta dos militares ao poder. Isto porque o poder, quando exercido pelos militares, sempre será autoritário sob a ameaça de armas. E assim não se constrói uma nação. As reformas e os melhoramentos, que até hoje não se realizaram, terão que acontecer pela vontade do povo.

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