A “PEGADA” DEIXADA PELO CONSUMO INSUSTENTÁVEL


 
 
Por Débora Salatino Palomares e Marçal Rogério Rizzo
O crescimento populacional e o avanço tecnológico causaram, nos últimos séculos, um desequilíbrio ambiental decorrente do uso insustentável dos recursos naturais essenciais para a sobrevivência da humanidade. Inclusive, esse desequilíbrio compromete a própria expectativa de se continuar com os mesmos níveis de consumo de bens e serviços necessários para manter o atual estilo de vida. Diante dessa situação, nos anos 90, foi criada a Pegada Ecológica (ecological footprint) que tem a finalidade de demonstrar o quanto a população consome recursos naturais e qual a sua capacidade de regeneração (biocapacidade).
Atualmente, a demanda por recursos naturais é cerca de 50% superior ao que o planeta é capaz de renovar, consequentemente, a Pegada Ecológica produzida pela população mundial é em média de 2,7 hectares globais por habitante. Entretanto, o planeta consegue sustentar somente 1,8 hectares globais por habitante. Isso denota que para sustentar o estilo de vida da população atual é necessário um planeta e meio, comprometendo, com isso, a biocapacidade dos recursos naturais.
De acordo com projeções, até a metade do atual século, caso os padrões de consumo dos recursos naturais não se alterem, os sistemas naturais estarão em colapso e será necessário mais de dois planetas para que a população continue com o mesmo estilo de vida. Fica evidente que isto decorre, dentre outros motivos, da perda acelerada da biodiversidade, do aumento da exploração dos recursos naturais, sem que se pense na sua capacidade de renovação, implicando na perda de espécies de plantas e animais.
Desde 1970, foi perdida cerca de 35% da biodiversidade. Tal perda se compara apenas aos acontecimentos de extinções em massa que, sobretudo, foram causados por fatos naturais e nunca por seres humanos. Além disso, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), desde 1500, aos menos 76 espécies já desapareceram. Essa situação pode ser considerada como uma crise de extinção.
No Brasil, a Pegada Ecológica é de 2,9 hectares globais por habitante, com isso o consumo de recursos naturais é elevado, mas próximo da média mundial. Conforme expõe o Relatório Planeta Vivo da WWF, o Brasil é o 56° no ranking dos que mais consome recursos naturais com relação à capacidade de renovação do planeta.
Além de medir as “pegadas” deixadas no planeta em decorrência dos hábitos de consumo, a WWF expandiu o cálculo também para as cidades. No Brasil, a primeira cidade a ter a sua Pegada Ecológica calculada foi Campo Grande. A cidade foi escolhida por abrigar parte de uma grande riqueza ambiental, o Pantanal, que sofre da ameaça da degradação por causa dos modos insustentáveis de consumo.
Por conseguinte, Campo Grande tem uma Pegada Ecológica de 3,14 hectares globais por habitante, isto significa que se todas as pessoas do planeta consumissem de forma semelhante aos campo-grandenses, seriam necessários quase dois planetas para sustentar esse estilo de vida.
Logo, a Pegada Ecológica é uma importante ferramenta para orientar os países em seu desenvolvimento econômico de tal modo que constituam estratégicas sustentáveis de aproveitamento dos recursos naturais. Ademais, com a crescente exploração dos recursos naturais, em um futuro não muito distante, eles serão tão escassos ao ponto de provocarem conflitos entre nações que buscam utilizá-los e as que ainda possuam recursos naturais.
Assim, a conservação da biodiversidade atualmente é um elemento decisivo e de grande complexidade, pelo envolvimento de questões ambientais e de riscos a destruição ambiental, sendo tudo isto agravado pela globalização econômica, pelo aumento da população mundial, pela demanda cada vez maior de recursos naturais, dentre outras causas. E é patente que o maior responsável por toda essa degradação do meio ambiente, infelizmente, é o próprio ser humano.  
Questionar o consagrado marco do consumo não é tarefa fácil. Envolve não é apenas enfrentar o sistema, mas também enfrentar a força da inércia, do individualismo e a zona de conforto do ser humano.
Débora Salatino Palomares: Acadêmica do Curso de Direito da UFMS – Câmpus de Três Lagoas. E-mail: debora.spalomares@gmail.com
Marçal Rogério Rizzo: Economista e Professor do Curso de Administração da UFMS – Câmpus de Três Lagoas . E-mail: marcalprofessor@yahoo.com.br
 
 
 

Comentários