Jovens

Reginaldo Villazón

Os adultos – por já terem passado pelas experiências da juventude – podem com conhecimento apontar defeitos e fazer ironias a respeito dos jovens. Os jovens ensaiam os primeiros passos rumo à vida adulta num estado de espírito que mistura realidade e imaginação, certeza e incerteza, timidez e arrogância, coragem e medo, paixão e desprezo. Por isto, não é fácil ser jovem, ainda mais nestes tempos, quando os jovens são obrigados a assumir obrigações profissionais e educacionais para garantir a sobrevivência de hoje e do amanhã.

Mas os jovens costumam não se deixar abater pelo desânimo e pela desesperança, mantendo vivo o otimismo, enquanto os adultos, muitas vezes, abandonam seus ideais e a alegria em favor da segurança e do conforto. O conflito que resulta entre jovens e adultos é explicável. Todavia, mais importante que isto é a colaboração recíproca, que deveria ser um fato corriqueiro com vantagens para as duas partes. Pois, não há como negar que jovens e adultos têm muito que se ajudar e aprender uns com os outros, em casa e na sociedade.

Os cidadãos brasileiros adquirem a faculdade de votar aos 16 anos de idade. A partir dos 18 (até os 69 anos), o voto é obrigatório. Isto quer dizer que, no Brasil, os jovens são politicamente capazes e vão às urnas escolher os governantes. Partidos políticos, organizações oficiais e privadas ostentam núcleos de formação e atuação política de jovens. Mas, na prática da política, é como se os jovens não existissem. Não há convivência nem diálogo entre os adultos políticos os jovens em condições de participar como cidadãos.

As manifestações populares de 2013, que se alastraram por várias cidades e surpreenderam o país, foram convocadas por jovens. De início, eram protestos contra aumentos nas tarifas dos transportes públicos. Depois, evoluíram para temas nitidamente políticos, como a má qualidade dos serviços públicos, a corrupção política e os gastos oficiais com eventos esportivos. Os adultos acordaram para a realidade denunciada pelos jovens e os acompanharam nas passeatas. Mas os políticos não conseguiram dialogar nem tomar providências.

Graças aos jovens – que exigiram "educação e saúde de padrão FIFA" –, hoje a população brasileira sabe a verdade da Copa do Mundo de 2014, o grande evento pactuado entre os cartolas mundiais do futebol e os políticos brasileiros. Segundo institutos internacionais de grande prestígio, os 12 estádios que o Brasil utilizará na Copa do Mundo de 2014 estão entre os mais caros do planeta. Os analistas se surpreendem com os altos custos, calculados por assento e no total. E não sabem como a maioria deles será utilizada após a Copa.

Os jovens têm preocupações com o futuro, com o acesso ao transporte, à educação, à saúde, ao emprego, à habitação. São sensíveis em favor do meio ambiente, da igualdade social, da proteção aos indefesos. Mas suas opiniões e necessidades não são exatamente as dos adultos. Eles vêem de modo diferente os partidos políticos, os meios de comunicação, as forças armadas, os sindicatos, as religiões, as relações familiares, as tecnologias. Enquanto são ignorados, voltam às ruas. Esta é a forma histórica da sua expressão política.

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