Decisão

Reginaldo Villazón

Ao abraçar as expressões politicamente corretas, como forma de evitar preconceitos e ofensas contra pessoas e grupos sociais, parecia que a sociedade dava um passo importante na civilidade, nas boas relações humanas em larga escala. A superação da intolerância era bem-vinda ao mundo, onde as diferenças precisavam ser compreendidas e respeitadas. Sim, houve progresso. Mas não suficiente para fazer brilhar a civilidade.
Hoje, os cientistas sociais se interrogam se é real ou aparente um declínio da civilidade, apontado como um problema atual. A resposta depende de observações e interpretações em vários cenários. No entanto, as evidências são extensas. O assunto acende debates. Há países em que as autoridades promovem campanhas de gentileza nos espaços públicos, de cortesia no trânsito, de respeito nas escolas.
Suspeita-se que o declínio da civilidade tem a ver com problemas sociais persistentes. Atitudes não civilizadas seriam resultantes de uma deterioração social que afeta o mundo contemporâneo. É simples entender que a multidão, afetada internamente por situações adversas, passe a se comportar de forma agressiva, conduzida por reações automáticas de autodefesa, multiplicando ações e sentimentos negativos.
No plano governamental, vicejam a falsidade e o cinismo dos políticos, que não cumprem suas obrigações e se resguardam no abrigo de leis criadas por eles mesmos, que fazem discursos vazios e não dialogam com a sociedade. Assuntos importantes, necessários ao bem-estar da população, são anunciados nas campanhas eleitorais, mas não são resolvidos. Os eleitores vão para as ruas, protestam e enfrentam a polícia.
Nas empresas, o companheirismo e a valorização do trabalho estão fora de moda. O clima imposto pelo chamado neocapitalismo é de competição, cobrança e ameaças. Os trabalhadores desenvolvem ansiedade, pânico e dores. O desgaste físico e emocional motiva indiferença nos relacionamentos em casa, no trabalho e na sociedade. Esta é uma condição favorável à ocorrência de atritos e explosões.
As empresas de comunicação, por certo, devem ter liberdade de expressão para cumprir suas finalidades. Mas é fácil constatar que, especialmente os canais de televisão, na busca incessante de níveis mais altos de audiência, veiculam tragédias e escândalos sem o cuidado de adicionar um conteúdo cívico. A banalização destes fatos concorre para a aceitação de que eles são parte do dia-a-dia da cidade e desvaloriza a civilidade.
No Brasil, a civilidade se esgarça. Políticos demagogos se elogiam em propagandas partidárias. Grandes empresas colecionam milhões de infrações contra os consumidores. A polícia prende, tortura, mata e oculta o corpo. Fiscais da vigilância sanitária extorquem dinheiro de comerciantes. Indígenas invadem prédios públicos. Vândalos promovem quebra-quebra em vias públicas. Estudantes agridem professores nas salas de aula.
O cenário é péssimo, mas ainda não chegou ao limite da violência. É inútil pensar que, hoje, políticas de segurança pública e educação cívica podem ser implementadas para resolver a situação. Mudanças estruturais precisam ser feitas na sociedade e no país. A hora é de decisão individual. O mundo oferece opções, caminhos bons e ruins. Prestar atenção nos acontecimentos é importante. Decidir pelo que é bom, é fundamental.

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