Alternativa

Por Reginaldo Villazón

No sexto dia do Rock in Rio 2013 (sábado, 21 de setembro), o cantor e compositor norte-americano Bruce Springsteen iniciou sua apresentação, cantando em português a música Sociedade Alternativa, de Raul Seixas e Paulo Coelho. O público foi ao delírio, embalado na lembrança do genial cantor e compositor baiano Raul Seixas (1945 – 1989), o Maluco Beleza, o Cowboy Fora da Lei, a Metamorfose Ambulante.
Raul Seixas teve vida luminosa e rápida, como os meteoros. Aos 22 anos, lançou o primeiro dos seus 22 álbuns de carreira. Aos 44 anos, morreu de parada cardíaca motivada por uma pancreatite aguda. Mas teve 7 álbuns lançados post-mortem e tem grande número de admiradores. É considerado, pela crítica internacional, um dos mais importantes artistas brasileiros. Isso mostra a força da sua obra na cultura do país.
Suas atitudes eram libertárias. Suas letras, como na música Mosca na Sopa, geravam suspeitas na ditadura militar: "Eu sou a mosca que pousou na sua sopa. Eu sou a mosca que pintou prá lhe abusar. E não adianta vir me dedetizar. Pois nem o DDT pode assim me exterminar." Quando ele e seu parceiro musical, Paulo Coelho, fundaram a Sociedade Alternativa, o caldo engrossou. Foram presos, torturados e exilados nos Estados Unidos.
Mas a tal Sociedade Alternativa não era um movimento contra o governo e pela instalação de outro tipo de sociedade no país, como pensavam os militares. Era uma idéia, inspirada no ocultista britânico Aleister Crowley, a ser formada dentro das pessoas sob o lema "Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei". Era pura filosofia: "Só há amor quando não existe autoridade. O Estado é o seu estado de espírito."
Pensar numa sociedade perfeita (uma utopia) ou numa sociedade melhor para a realização da vida é uma preocupação antiga que nunca fica fora de moda. No mundo atual, depois de muitas experiências frustrantes – nazismo, comunismo, ditaduras nacionalistas, neoliberalismo – as crises se sucedem em ondas. Até as sociedades mais desenvolvidas sofrem as crises e não conseguem obter soluções satisfatórias.
Pior é que o tempo passa rápido. As mudanças no mundo globalizado acontecem todo dia e exigem mais soluções para que as sociedades não fiquem desatualizadas. A Alemanha, com as eleições do último domingo (22 de setembro), terá dois deputados negros e uma deputada muçulmana. Isto significa que a Alemanha da raça branca não existe mais. Sua sociedade se diversifica, se modifica.
Assim, é preciso pensar em novos modelos de política, economia e desenvolvimento, que fortaleçam a democracia, reduzam os desníveis econômicos e estimulem os índices de qualidade de vida da população. A atual competição por bens materiais, que agita pessoas, empresas e países, numa luta que não tem fim, resulta em sofrimentos, prejuízos e confrontos. Enfim, crises. E vida humana sobre o planeta se torna perigosa.
Parece que a História vai se repetir num ponto: as mudanças sociais não vão acontecer de cima para baixo, das elites para o povo. Mas no sentido oposto. A população hoje confia pouco nas elites e seus eventos pomposos. E, sem alarde, os empreendedores sociais competentes envolvem crianças, jovens e adultos em bons projetos de qualificação pessoal e cidadania. Esta é a sementeira que vai gerar sociedades melhores.

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