Um gigante ferido

Vitor Sapienza
Outro dia, durante um encontro com jovens estudantes, falamos sobre a importância da política na formação de uma sociedade. E desde que entramos no assunto, muitos desses jovens deixaram claro a sua aversão para com o assunto. Quando falamos sobre a nossa condição de deputado, foram muitas as questões, desde o interesse em saber o porquê de termos entrado na política, além da situação do país como um todo.
É evidente que não iremos, aqui, detalhar o que foi dito, o que foi discutido e o que os jovens contestaram. O que ficou nítido foi o interesse, quando a conversa franca, é direta, olho no olho, quando não se foge da resposta, mesmo quando ela tem que ser dura, objetiva e, muitas vezes, quando temos que colocar o dedo na ferida. Ferida, acho que é a palavra correta, embora o ideal que ela fosse usado no masculino.
Temos que admitir que o nosso país está ferido. Ferido na maneira de agir, de contestar, de lutar, de reivindicar, de ir em busca dos seus anseios. É um ferimento que já não sangra, embora se mostre difícil de cicatrizar. E isso é o que preocupa. O sintoma de resignação virou a marca de um povo que aceita o que lhe é jogado sobre os ombros. E isso está visível tanto no tributo abusivo, como na carência de serviços públicos; na aceitação do produto importado, em detrimento do nacional, como na música de qualidade duvidosa que os meios de comunicação nos impõem.
É essa docilidade que preocupa. Ela está contida no idoso que não reivindica os seus direitos e no jovem que não vai à luta; no trabalhador que aceita os limites e despreza a necessária reciclagem profissional, e no mestre que ignora os horizontes; no homem público que foge de suas responsabilidades, que se omite e que vira o rosto diante do problema; no falso solidário de busca proveito próprio, e no necessitado que se alberga na carência que se eterniza.
E quando fazemos essas comparações, aquele jovem que diz detestar a política procura desculpas e encontra respostas no nada que recebeu dos educadores. E os educadores se justificam dizendo que precisam se ater apenas ao conteúdo didático. E, inconformados, insistimos na pergunta, e as respostas são vazias, vazias de conteúdo, vazias de interesse, vazias de objetivos.
Gostar de política é uma escolha; gostar dos políticos, uma opção. Discutir política é um dever de todos, afinal, é na política de devemos encontrar as soluções para as nossas carências, os nossos problemas, os objetivos da sociedade. É elementar dizer que a política responde pelos erros e pelos acertos de um povo. O que não se pode aceitar é o descomprometimento, porque o ato e se lavar as mãos não tem significado algum, além da omissão. E na história da humanidade apenas um omisso ficou para a eternidade. Ele lavou as mãos e deu no que deu.
Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

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