Ordem unida

por Reginaldo Villazón

Morreu há uma semana (dia 17, sexta-feira) aos 87 anos, numa penitenciária federal na Província de Buenos Aires, o prisioneiro Jorge Rafael Videla Redondo. A notícia fez lembrar as ditaduras latino-americanas. O general Jorge Videla ocupou a presidência da Argentina por cinco anos (1976 a 1981), após dar um golpe militar que depôs a presidente Isabelita Perón. Mergulhou o país numa ditadura que terminou em 1983.
Seu governo foi marcado por violações aos direitos humanos, fracassos econômicos e disputa territorial com o Chile. Promoveu seqüestros, torturas e assassinatos de opositores, cujos corpos foram enterrados clandestinamente ou jogados ao mar. Sua política econômica derrubou a produção nacional e as exportações, gerou desemprego, desvalorizou a moeda e fez crescer a dívida externa. Perdeu a questão da posse de três ilhas para o Chile.
Grupos de defesa dos direitos humanos estimaram em 30 mil o número de pessoas desaparecidas na época da ditadura militar (1976 a 1983). Em 500 o número de crianças roubadas. O general Jorge Videla teve que enfrentar a justiça argentina após a ditadura. Perdeu a patente militar e ganhou prisão perpétua. Mas nunca se declarou culpado nem arrependido, não acusou companheiros de farda e não colaborou no esclarecimento do destino de pessoas desaparecidas e crianças roubadas.
Para o ilustre escritor brasileiro Monteiro Lobato (1882 – 1948), os políticos buscam o poder com a mesma ganância dos porcos ao sentirem o cheiro da comida no cocho. Isso poderia explicar, de modo geral, a origem das ditaduras, inclusive das latino-americanas fundadas por militares que se fizeram políticos. Mas como incluir neste perfil o general Jorge Videla, um militar exemplar?
Jorge Videla nasceu numa família tradicional. Seu pai era coronel do Exército e isto teve influência marcante na sua educação. Estudou no Colégio Militar e na Escola Superior de Guerra, sempre entre os melhores alunos. Na ascensão na carreira militar, chegou ao posto máximo de general-comandante do Exército. Era um militar formado (ou "deformado", como outros, mundo afora) para combater e aniquilar inimigos.
Na vida pessoal, Jorge Videla era profundamente religioso e bom pai de família. Tinha esposa (sempre a mesma), filhos e netos. Vivia sem ostentação. Alto e magro, andava com calma e ar despreocupado. Quem o via passar tinha motivos para enxergar nele semelhanças com a "pantera cor-de-rosa".
Não dá para justificar seus atos desumanos. Nem repreender as vozes que hoje bradam "Videla, o inferno lhe é pouco". Mas é preciso ver a importância do cenário sócio-econômico e político no surgimento da ditadura. Na época, os países latino-americanos eram dominados por elites tradicionais apegadas a privilégios. Seus povos, ansiosos por progresso e melhor distribuição de renda, eram agitados por propagandas socialistas da União Soviética e capitalistas dos Estados Unidos. O clima era de enfrentamentos.
Na História, verifica-se que há ditadores de diferentes perfis: gananciosos, fanáticos, vaidosos, egocêntricos, dominadores, lunáticos, demagogos e outros. Que eles praticam diferentes tipos de ditaduras: totalitarismo, nacionalismo, populismo e outros. Mas isto pouco importa. Os ditadores são apenas homens comuns, mas com um desequilíbrio.
Importa, sim, saber que as ditaduras só brotam em solos férteis de discriminações, competições e ódios. É fácil constatar isso na geografia das ditaduras. Assim, elas podem surgir em qualquer país do mundo. Mas elas e seus horrores jamais acontecerão nas sociedades civilizadas, onde as pessoas aprenderam a se tratar com respeito e fraternidade.

Comentários