Cidades verdes

Reginaldo Villazón
Foi-se o tempo em que os temas ecológicos, como preservação da Mata Atlântica e do mico-leão-dourado, eram tidos como discursos idealistas em favor de coisas bonitas, mas inúteis. Hoje é do conhecimento geral que o enfraquecimento e a extinção de espécies vegetais e animais afetam o equilíbrio de sistemas de vida complexos e empobrecem os recursos naturais do planeta.
A possibilidade de a humanidade viver em cidades auto-suficientes, dentro de grandes cúpulas de vidro, desfrutando de conforto e segurança, parece que não será real. Experiências realizadas com grupos de pessoas, preparados e equipados para viver por longo tempo em ambientes isolados, até agora não deram certo. Por questões técnicas e humanas, tiveram de ser suspensas.
Viver em pequenas comunidades, dentro de ambientes fechados, é viável e necessário em locais onde as condições naturais são limitantes. Mas nunca de forma autônoma, sem contar com o que existe e acontece lá fora. A Terra é um planeta pequeno. É apenas o quinto em tamanho, entre os oito principais do sistema solar. Cuidando bem, será possível viver nele em liberdade por milhões de anos.
Os problemas e preocupações com o meio ambiente estão presentes no cotidiano das pessoas. No conjunto, são questões que dizem respeito à sustentabilidade. As atividades humanas precisam se sustentar do ponto de vista econômico, mas também precisam se sustentar ao longo do tempo sem prejudicar o meio ambiente e sem pôr em risco a vida presente e futura no planeta.
Há muito que fazer. Aumentar o aproveitamento dos alimentos. Racionalizar a separação, a coleta e a destinação do lixo. Tratar o esgoto coletado. Erguer e adaptar construções para economia de água e energia elétrica. Investir na eficiência do transporte urbano e na facilidade de acesso da população aos bens e serviços. Melhorar a arborização urbana e as áreas de lazer.
No Brasil cresce o número de projetos ecológicos bem sucedidos. Um exemplo é da empresa multinacional de bebidas Diageo. Para aumentar a reciclagem do vidro descartado no país (estimada em 40% do total de 890 mil toneladas por ano), ela fez parcerias com os bares e restaurantes que servem suas bebidas e a Cooperativa Vira Lata na cidade de São Paulo. Os cooperados recolhem todas as garrafas e objetos de vidro descartados nos estabelecimentos e vendem para reciclagem. O projeto deu tão certo que a empresa vai aumentar a coleta atual de 70 toneladas de vidro por mês para 300 mil.
Nos países desenvolvidos há exemplos avançados. Na Alemanha, a cidade de Stuttgart é o motor da economia regional. Hoje é administrada sob a ótica de "cidade verde". A orientação fundamental é a modernização ecológica para a cidade manter a competitividade, o nível de atividade econômica e o bem-estar social. Os gestores públicos, empresários e cidadãos são exigentes na aplicação de novas tecnologias e instalação de benfeitorias para manter saudável o meio ambiente da cidade.
No Brasil, políticos não se ilustram em ecologia urbana. Empresários ainda priorizam o ganho financeiro. Os cidadãos subestimam o potencial de suas cidades em atrair profissionais e empresas de alto nível. Mas, as comunidades que despertarem para o conceito de "cidade verde" vão conquistar, num só tempo, desenvolvimento e qualidade de vida.

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