Braços cruzados,

Vitor Sapienza
Existem dois tipos de ruídos que não podemos ignorar, jamais: o ruído do estômago, e o ruído das ruas. E a atenção tem que ser maior ainda quando eles estão unificados, misturados. O primeiro é adubo para as revoluções, para as rebeliões, para os movimentos populares. Fiquemos com o segundo, quando a voz da população se faz uníssona, redundante, contundente. É quando o todo exige que o Poder Público tome uma posição, que os homens públicos assumam determinadas atitudes, que sejam efetuadas mudanças; é quando a sociedade começa a exigir uma resposta imediata.
Não é segredo para ninguém o que ocorre em praticamente todas as cidades brasileiras. A violência urbana, antigamente considerada uma característica de grandes cidades, aos poucos vai contaminando as pequenas cidades, muitas delas antes classificadas como recantos de tranqüilidade.
A vida humana perdeu o valor, abandonamos os valores familiares, o respeito, perde-se a dignidade, e a violência vai deixando de ser manchete. O que provoca traumas hoje, amanhã será facilmente esquecido, encoberto por algo mais violento, mais estarrecedor.
Em uma análise bem superficial, prestemos atenção à idade dos autores dessas atrocidades. A maioria tem menos de 25 anos, e dentre eles, uma imensa fatia dos considerados menores de idade. Menores, incapazes, inimputáveis, eles têm plena consciência dos seus direitos, embora jamais se preocupem com os deveres. Podem votar, muitos dirigem veículos e a grande maioria tem habilidades no manuseio de armas. Libertam o sorriso com a mesma naturalidade com que bebem um copo com água, ou apertam um gatilho. E, quando são detidos, mostram a certeza de que, em pouquíssimo tempo estarão novamente nas ruas, mostrando uma ficha criminal cada vez mais extensa.
Por outro lado, as pessoas de bem blindam os carros, cercam as casas com grades, câmeras de vigilância, monitoramento eletrônico, seguranças particulares, evitam sair à noite, selecionam os roteiros e reiteram a fé com pedidos de proteção divina. Este é o eco das ruas, embora a cada dia que passa ele ganhe o ruído da indignação. E em nome dessa indignação, a sociedade vai aos poucos exigindo que o Congresso Nacional tome providências. A lei antiga, ultrapassada, benevolente, precisa ser atualizada para que o governante possa, de fato, propiciar segurança à sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente precisa ser modificado.
Precisamos tratar as crianças como crianças, e os bandidos, como bandidos. Precisamos parar de tratar jovens marginais como santos, até mesmo porque, com a facilidade dos meios de comunicação, com a informação pulverizada e à disposição de todos, sabemos que na mais tenra idade as nossas crianças de hoje são muito diferentes daquelas do passado. Deixemos, pois, de ilusões! O grito das ruas é muito diferente daquilo que meia dúzia de entendidos tentam fazer com que aceitemos. Ainda há tempo, embora nem tanto, para que o Congresso descruze os braços, e retire a cera dos ouvidos.
Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

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