Clássicos

por Reginaldo Villazón
Quem vai a uma videolocadora num sábado, sem pressa, com vontade de escolher um bom filme, tem que examinar com atenção a prateleira dos Clássicos. Não deve sentir vergonha se preferir um filme antigo, em vez de disputar um lançamento, um filme novo que está na moda. A razão é simples. O que é bom – com o passar do tempo – não fica velho, vira Clássico. Ninguém chama de velhos os filmes "Casablanca" (1942), "Doutor Jivago" (1965), "Os girassóis da Rússia" (1970).
Não é certo comparar o antigo e o novo, no sentido de saber qual deles é melhor. Nada disso. Faz bem à alma ouvir os artistas atuais Marisa Monte, Djavan, Zeca Baleiro. Faz o mesmo bem ouvir Elis Regina, Tim Maia, Luiz Gonzaga, que já se foram. É impossível ouvir, sem emoção, cantores internacionais de alta qualidade, como Ella Fitzgerald, Nat King Cole, Luciano Pavarotti, que deixaram saudade.
Gostar do antigo pode ser saudosismo, mas pode ser mais. Um ferroviário aposentado se emociona diante da estação desativada, na plataforma vazia, ao ver o trem abandonado. Com mais vivacidade, as crianças que têm a oportunidade de conhecer instalações ferroviárias e andar de trem, vibram de maneira incontida. É uma festa ver tudo em tamanho real, fora das miniaturas, das revistas, dos filmes. Sentir o balanço e o barulho do trem, ver a paisagem passar nas janelas.
Numa viagem à Europa, é possível visitar, em Paris, o Museu do Louvre, que possui um grande acervo de obras de autoria de gênios das artes, como Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti, Caravaggio, Ticiano, Rembrandt, Francisco de Goya. Na Itália, na Região da Toscana, é possível extasiar-se com os castelos, as casas rurais e os casarios muito antigos, feitos com arquitetura imponente e pedra bruta.
Clássicos também são muitos carros antigos. A paixão por eles afeta muita gente e pode ser saciada com fotos, distintivos, miniaturas e exemplares bem conservados. Quem nunca ouviu falar das marcas Bugatti, Maserati e Alfa Romeo? Os aficionados pelo popular alemão Volkswagen Sedan – "Fusca" no Brasil e "Beetle" (Besouro) em grande parte do mundo – se contam em milhões.
O Fusca (e Beetle) agora volta a ser fabricado. Com motor de 2.0 litros, potência de 200 cavalos, câmbio de 6 marchas e muita tecnologia, vai custar no Brasil uns R$ 80.000,00. Não repetirá o sucesso do carro original. Mas suas linhas mostram o desenho inconfundível do Fusca, concebido pelo talento de Ferdinand Porsche.
Os Clássicos são muitos, materiais e imateriais. Não há como alguém sair da ignorância e formar um patrimônio cultural com atitudes consumistas, buscando obsessivamente o mais novo. Os Clássicos não são coisas antiquadas e complicadas, nem produtos de consumo. São bens importantes que possuem universalidade e atemporalidade, que atravessam fronteiras e preservam intactas as suas qualidades.

Comentários