Um presente especial

Marta Sousa Costa
www.martasousacosta.com
Sonhar, todos sonham. Alguns sonham com a mesma coisa por toda a vida, esperando que caia do céu, por empenho de algum santo. Outros resolvem, de saída, que o sonho é muita areia pro seu caminhãozinho e se tornam frustrados, fazendo de tudo para atrapalhar a realização dos projetos dos outros, porque o sucesso alheio dói demais. Alguns, no entanto – pena que não sejam muitos – perseguem seus sonhos com garra e determinação, tal como o menino que lança a pipa ao vento e só sossega quando a vê voar, vitoriosa.
Neste ano de 2012, a cidade de Pelotas completou 200 anos. Recebeu muitas homenagens e alguns puxões de orelha, tanto dos eternos descontentes como de quem, mais que tudo, deseja vê-la progredir e recuperar o antigo prestígio. Só que, nessa história de comparar o hoje ao ontem, a gente se perde, procurando culpados, sem atentar para o fato de que cabe aos cidadãos de cada cidade tomar a si o destino do lugar onde vivem. E por que nossos antepassados assumiram essa tarefa, com generosidade e empenho, a vila prosperou e se tornou cidade.
Desde quando os primeiros imigrantes chegaram, procurando um lugar para viver em paz, nossos antepassados sonharam e lutaram para realizar seus sonhos.Traçaram ruas, ergueram prédios, hospitais e igrejas; acreditaram. Por isso estamos aqui, continuando a história. Sonhar, todos sonham. Acreditar no sonho e lutar para realizá-lo, sem medir esforços, é próprio dos empreendedores. Convencer outros da importância do que se almeja e conseguir que participem, contribuam, assumam nossas ideias como se fossem suas, é a medida do sucesso. Pois foi essa a tarefa que se propôs a escritora Zênia de Leon, presidente da Academia Pelotense de Letras.
Quem vê a figura miúda, de aparência frágil, jamais poderá imaginar a força e a tenacidade inquebrantável que a sustentam. Pois Zênia teve o sonho de presentear a cidade de Pelotas, em nome da Academia Pelotense de Letras, com um presente: um monumento, comemorativo aos 200 anos, colocado em frente ao atual prédio da Academia Pelotense de Letras. Só que Zenia não pensou pequeno: imaginou um pórtico, erguendo-se imponente quase à esquina do Parque Dom Antônio Zattera.
Desde 2007, junto com os membros da Academia, Zênia batalhou para transformar seu sonho em realidade, enfrentando o ceticismo de muitos (meu, inclusive, pelo que me penitencio aqui), as puxadas de tapete, as reviravoltas de etapas já concluídas, legalmente, essas em nome da guerra de vaidades. Zênia não esmoreceu e, com sua fé e determinação, foi conquistando adeptos, ampliando o leque dos apoiadores, pois a obra, prevista para ser iniciada em 2008, obviamente necessitou de mais recursos, por ter todos os trâmites legais somente concluídos em 2012, quando pôde ser realizada. Mas o importante é que, em seu Bicentenário, Pelotas recebeu este lindo presente, onde já vejo saraus acontecendo, noivos posando para fotos, crianças brincando entre as colunas, na celebração da história que continua.
Na parte superior do pórtico, o lema da Academia Pelotense de Letras, "Per áspera ad Astra", lembra que "pelas asperezas, se alcança aos astros". Seja seguindo para o trabalho, regressando de empreitada desanimadora ou preparando-se para qualquer batalha, saibam os passantes que os caminhos se abrem, quando os sonhos são conduzidos com determinação e certeza do seu valor.
Parabéns, Zênia de Leon, pela capacidade de alçar voo, perseguindo seus sonhos, como faria a águia, não por acaso símbolo desta Academia de Letras.

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