Editorial

Sem problemas

O Brasil mostra ao mundo, mais uma vez, que faz eleições grandes, organizadas, modernas e pacíficas. Neste primeiro turno das eleições municipais em todo o país, as urnas eletrônicas estiveram presentes até nas comunidades mais distantes e isoladas. Votar nelas, não foi problema sequer para os eleitores indígenas. A apuração dos votos foi rápida e, diante dos resultados anunciados, a aceitação foi geral.
Os eleitores se comportaram à altura do que as eleições representam para a democracia, sabendo que elas existem assim, como são hoje, depois de muita luta. Foi-se o tempo da negação do voto às mulheres, dos currais eleitorais, das fraudes ostensivas, das interferências autoritárias por decretos. Esse passado está morto e sepultado.
Sem dúvida, há muito que melhorar. Há reformas que precisam ser implementadas na política e no processo eleitoral. Há mudanças de atitudes que devem ser feitas pelos políticos e pelos eleitores. Porém, o povo brasileiro dá o bom exemplo e sinaliza que é capaz de adotar os avanços que o aguardam no futuro.
Uma vista geral nos resultados deste primeiro turno revela que a democracia brasileira não é uma obra pronta e acabada. Não há partidos políticos – que se enfrentam ou se aliam – com força suficiente para definir as eleições. Os partidos existem em função dos nomes dos políticos existentes nos municípios, nas regiões e nos estados. As siglas partidárias dos candidatos vencedores formam uma variada sopa de letras.
Na Comarca de Jales, em três dos dez municípios, quatro mulheres se candidataram a prefeitas. Um fato comum, pois as mulheres já conquistaram cargos eletivos na capital federal, em capitais estaduais e cidades do interior. Mas houve os que colocaram em dúvida a competência delas para o cargo. Terão que aceitar duas prefeitas: Eunice Mistilides Silva, em Jales, e Ana Lúcia Olhier Módulo, em Vitória Brasil.
Em Jales, a Nice alcança o status de prefeita na sua terceira postulação. Não foi, pois, uma candidata de última hora, que se aproveitou de circunstâncias favoráveis para tentar ser prefeita. Será a primeira mulher a ocupar o cargo em Jales, com uma vantagem. Ela não fará um governo pior – do que a maioria dos governos feitos pelos homens em Jales –, porque isto é impossível. Ela tem duas opções: fazer um governo igual, ou melhor.
Regra geral, no país, políticos e eleitores pensam que os prefeitos são administradores públicos. Acham que os prefeitos devem gerenciar as prefeituras, realizar obras públicas e zelar pelo patrimônio comum. Por esta razão, os prefeitos deixam de exercer suas nobres funções políticas para fixar-se em tarefas administrativas. Mas não se cercam de profissionais qualificados, não treinam suas equipes e não tomam boas decisões. Entra prefeitos, saem prefeitos, as prefeituras e os municípios continuam perrengues.
Como se sairão, as prefeitas Nice e Ana Lúcia? Para saber, primeiro é preciso não levar em conta o que disseram na campanha eleitoral. Segundo, é preciso avaliar a qualidade – competência, dedicação ao trabalho e honestidade – dos seus escolhidos para os cargos de confiança. Depois, é só prestar atenção no envolvimento delas com suas comunidades. Refletindo bem, dá para cismar que as mulheres têm dotes de ser excelentes prefeitas. As mulheres são doces e generosas. Mas são duras e irredutíveis, quando é preciso.

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