*José Renato Nalini
Tenho a mania de ser pontual. Isso
me custa em irritação e indignação. Parece que os horários são meros
parâmetros. Uma indicação vaga daquilo que deveria acontecer na hora marcada.
Essa prática da pontualidade causa
conflitos domésticos. É algo que o mundo conhece e que cientistas sociais
tentam entender há décadas. Lá por volta de 12950, o antropólogo Edward T. Hall
cunhou os termos “monocrônico” e “policrônico”. No norte da Europa e EUA,
sociedades monocrônicas, as pessoas são mais pontuais. Já na América Latina,
África e Oriente Médio, sociedades policrônicas, as pessoas se sentem mais à
vontade em ser dispersas com horários.
É uma questão de disciplina. As
pessoas são mais criativas, motivadas e produtivas quando trabalham em seu
estilo preferido. Algo que ajuda a avaliar os valores em relação ao uso do
tempo é observar como se reage a interrupções. Se você não gosta de ser
interrompido, você é monocrônico. Pessoas que gerenciam o tempo priorizam
obrigações em detrimento de relacionamentos. Para estes, uma interrupção é
irritante.
Noto que temos o hábito de
justificar atrasos culpando o trânsito. Se sabemos que o congestionamento é uma
constante, por que não se programar? Não há escusas para o costumeiro atraso.
Sinal de pouca consideração para com o compromisso ou com a pessoa.
Já se você tende a se atrasar porque
tenta atender às necessidades de várias pessoas ao mesmo tempo, você é
policrônico. Cada característica tem suas vantagens e desvantagens. Estilos de
uso do tempo são preferência, não um caráter inflexível. Se o objetivo for o de
fortalecer vínculos, deve-se adotar o estilo policrônico. Para os
compulsivamente pontuais, que se frustram com o atraso alheio – incluo-me nesta
categoria, - já me acostumei a levar um livro. Assim, é possível se manter
produtivo enquanto se espera. Mas continuo a pensar comigo mesmo, que
pontualidade é uma questão de educação. Educação de berço, não necessariamente
formal.
*José
Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

Comentários
Postar um comentário