Paulo Serra*
O Natal é, antes de tudo, um tempo simbólico. Um marco no calendário que
convida à pausa, à reflexão e ao reencontro com valores que, no cotidiano,
ficam soterrados pela pressa, pelo conflito e pelo excesso de ruído. Num mundo
marcado por tensões crescentes, polarizações profundas e debates cada vez mais
agressivos, o espírito do Natal nos provoca a olhar para além das diferenças e
a resgatar aquilo que nos une como sociedade.
Neste contexto, tenho insistido numa ideia simples, mas poderosa: mais gestão e
menos polarização. Tal expressão não nasce da negação do debate político,
tampouco do apagamento das divergências - que são naturais e até saudáveis num
regime democrático. Ela surge da constatação de que o excesso de confronto, de
ódio e de disputas estéreis tem afastado a Política de sua finalidade maior:
melhorar, de forma concreta, a vida das pessoas.
Falar em mais gestão é tratar de problemas reais do dia a dia, de serviços
públicos que funcionam, de cidades mais humanizadas, de políticas públicas
baseadas em planejamento, de evidências e de responsabilidade. É compreender
que o cidadão comum não acorda preocupado com rótulos ideológicos, mas com o transporte
que não chega, com a fila da saúde, com a qualidade (ou não) da escola dos
filhos, com a segurança da sua rua e com as oportunidades de trabalho. Gestão
é, portanto, um exercício permanente de escuta, de técnica e de compromisso com
resultados.
Por outro lado, falar em menos polarização é reconhecer que o clima constante
de antagonismo corrói a confiança social, fragiliza as instituições e dificulta
a construção de soluções coletivas. A polarização excessiva transforma o
adversário em inimigo, substitui o diálogo pelo ataque e empobrece o debate
público. Quando isso acontece, todos perdem: a política, em qualidade; a
Democracia, em densidade; e a sociedade, em coesão.
É justamente neste ponto que o espírito natalino se torna tão atual e
necessário. O Natal nos lembra valores universais, como empatia, solidariedade,
fraternidade e diálogo, e que não pertencem a um campo ideológico específico, a
“um lado”, mas à própria condição humana. O gesto de acolher, de ouvir o outro
e de buscar pontes em vez de muros carrega força transformadora, que ultrapassa
o âmbito pessoal e alcança o espaço público.
Quando transportamos este sentimento para a Política, estamos falando de uma
prática mais madura e responsável, capaz de reconhecer diferenças sem
transformá-las em ódio; de discordar sem desumanizar; de competir sem destruir.
Que possamos aproveitar este tempo simbólico para desacelerar, rever posturas e
repensar prioridades. Que o espírito do Natal nos inspire a construir uma
sociedade menos agressiva, mais justa e mais solidária. Que esta época do ano
nos lembre que o caminho do diálogo, da boa gestão e do compromisso com o bem
comum é sempre o mais difícil – e, justamente por isso, o mais necessário.
Que o Natal renove em todos nós a esperança de que é possível fazer diferente —
e, acima de tudo, fazer melhor e com mais empatia, solidariedade e humanidade.
*Paulo Serra é especialista em Gestão Governamental e em Políticas
Públicas, pela Escola Paulista de Direito; e em Financiamento de
Infraestrutura, Regulação e Gestão de Parcerias Público-Privadas (PPPs), pela
Universidade de Harvard (Estados Unidos); cursou Economia, na Universidade de
São Paulo (USP); é graduado em Direito, pela Faculdade de Direito de São
Bernardo do Campo-SP; professor universitário no curso de Direito, também é 1º
vice-presidente da Executiva Nacional do PSDB e presidente do Diretório
Estadual do PSDB de São Paulo; foi prefeito de Santo André-SP, de 2017 a 2024.

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